domingo, 31 de março de 2013

Aleluia!


Há uma dimensão de espiritualidade na festa da Páscoa, que é, para mim, a sua verdadeira essência. Por isso, neste dia, não passo sem o cerimonial religioso, nem dispenso as magníficas palavras do Padre Feytor Pinto, reflectindo sobre as leituras do dia e falando(-nos) do que significa para quem é crente a alegria da ressurreição e a vida nova que lhe está associada.

No blog Delito de Opinião encontrei, uma vez mais, um excelente texto de Pedro Correia que já ontem partilhei no Facebook. Mas, como sou cada vez menos facebookiana e cada vez mais do blog, que é muito mais intimista e tem muito mais a ver comigo, aqui fica, também, com as devidas aspas.

 
 
«E era com grande poder que os Apóstolos davam testemunho da Ressurreição do Senhor Jesus, gozando todos de grande simpatia. Entre eles não havia ninguém necessitado, pois todos os que possuíam terras ou casas vendiam-nas, traziam o produto da venda e depositavam-no aos pés dos Apóstolos. Distribuía-se, então, a cada um, conforme a necessidade que tivesse.» (Actos dos Apóstolos, 4: 34-35)
 
O dia que hoje celebramos no mundo de matriz cristã tem um significado que ultrapassa a letra da liturgia, podendo ser assimilado por todos os seres humanos de boa vontade. Simboliza desde logo a supremacia absoluta da espiritualidade sobre o materialismo. Simboliza o resgate de todos os injustiçados à face da terra - aqueles que, como Jesus, também sobrevivem à traição, à calúnia, à humilhação e à tortura. Simboliza enfim o triunfo dos justos contra a iniquidade política (personificada em Pôncio Pilatos, que sabia estar a permitir a condenação de um inocente) ou religiosa (personificada em Caifás, sumo sacerdote da Judeia). Cristo, ao transcender o plano da morte física após sucumbir sob intenso sofrimento, demonstra que todos os filhos de Deus são revestidos da mesma dignidade essencial. "Nenhum poder terias sobre mim se do Alto te não fosse dado", diz a um perplexo Pilatos, segundo relata o Evangelho de João.
O cristianismo, para não trair a sua raiz nem o seu destino, jamais deve omitir a face humana de Jesus, que nasce numa gruta obscura e morre crucificado entre dois salteadores. Alheado de toda a glória mundana, despojado de todos os bens terrenos, proclama para a eternidade que nem a morte é capaz de travar a indomável essência do espírito.
Reflexão para esta Páscoa. Reflexão para qualquer Páscoa que vier.
 
Texto reeditado
 
Quadro: Ressurreição, de Marc Chagall (1937)

10 comentários:

  1. Em tempos também vivia o mistério pascal intensamente, tão intensamente que agora me é muito difícil acreditar...

    Mas concordo com a mensagem de que a Isabel fala, o espiritualismo vs materialismo, e procuro viver essa dicotomia de um modo muito especial, que aliás deve transparecer no que escrevo.

    Gosto de conforto, amo as minhas coisas, mas é-me muito mais importante sentir-me em paz com o que tenho e repartir o que é meu com todos os que precisam de mim.

    Hoje foi um dia fantástico com muita música....e amor de todos os meus.

    bjinho

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    1. O meu dia de Páscoa também foi muito bom, apesar da chuva...

      Beijinho
      Isabel

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  2. E o meu dia foi transtornado com a mudança de hora e com guloseimas a mais. Respeito muito, já vivi intensamente, mas vias sacras vamos percorrendo muitas diariamente...

    Beijinho:)

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    1. Acho que das guloseimas abusámos todos um bocadinho...
      Mas amanhã, bem cedinho, já vou dar cabo delas ;)

      Beijinho. Grande. :)

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  3. Em tempo: também vou quase sempre à missa do Pe Feytor Pinto.

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    1. É impressionante como circulamos pelos mesmos lugares... Campo Grande ao meio-dia? Ou Domingo ao fim da tarde?
      Se calhar já lá estivemos ao mesmo tempo... Eu não vou sempre. Só em datas festivas(Natal, Páscoa, etc.), ou quando sinto que isso é mesmo importante para mim. ;)

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  4. Às vezes ao meio-dia, outras às sete. Belíssimos sermões! Campo Grande, sempre :)

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    1. :) Eu que fiz toda a minha adolescência na Capela do Rato e me habituei ao brilhantismo intelectual do Padre Resina, não consigo já ir a uma missa na qual o sermão não seja assim fantástico, como são sempre os do Padre Feytor Pinto. E gosto de um certo sentido de "festa" que ele imprime à missa, porque a fé para mim é alegria e não é estar ali "a morrer" ou a "despachar uma obrigação".

      Mais beijinhos :)

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  5. Também li o texto e gostei do último parágrafo, sobretudo (ainda por cima adoro Chagall).
    Não sou de grandes rituais religiosos nem de missas mas gosto da Páscoa porque é isso - simples, sem azáfamas, mais espiritual. :)
    Bjs

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    1. Espiritual, isso mesmo, ligada à vida nova e ao recomeço.

      Beijinho

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