quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Impossível esquecer


Há doze anos estava em casa a esta hora, a preparar as primeiras aulas de um ano lectivo que começava daí a dois ou três dias. Na sala tinha a televisão ligada no telediario espanhol, como de costume, que ia ouvindo de maneira mais ou menos desatenta. E, de súbito, no fim do jornal, uma notícia de última hora chamou-me a atenção: um avião tinha acabado de chocar com as torres, em Nova Iorque. Fui até à sala e assisti em directo ao segundo embate. Aquilo que se pensara primeiro ser um acidente, era afinal muito mais que isso. Durante o resto da tarde, e da noite, já não saí da frente da televisão. E assisti em estado de choque, com o resto do mundo, aos relatos imprecisos e emocionados do que se estava a passar num dia de horror que havia de mudar o mundo para sempre.
Este Verão li um livro sobre esse 11 de Setembro de 2001. Chama-se A Manhã do Mundo e é um livro que incomoda. Porque apesar de ser uma obra de ficção, é impossível não sentir cada um daqueles dramas, não reviver a confusão de sentimentos, a dor daquele dia e dos que se lhe seguiram. O livro foi escrito pelo Pedro Guilherme-Moreira do blogue Ignorância. Hoje, doze anos depois, o Pedro escreveu isto no Facebook:
Há doze anos o 11 de Setembro marcou-nos a todos. Eu fui dos que segui a voragem noticiosa no centro da dor de todo o mundo (morreu o mundo inteiro naquelas torres)(...) Depois fui mais fundo e mais fundo, quis entrar nas torres e contar a história dos suicidas da torre norte, heróis dos tempos modernos, por corporizarem cada um de nós, a qualquer momento, nas nossas cidades, no nosso escritório, a asfixiar, a arder, a perder a esperança, a ter de tomar a última decisão. (...) Sei que nunca mais me curarei e cuidei que ninguém mais se curasse ao escrever "A manhã do mundo", que a Dom Quixote deu à estampa em Maio de 2011, sob edição da Maria Do Rosário Pedreira. Talvez seja difícil explicar porque é que este dia é tão duro para mim. Porque é que sinto sempre que tenho uma tonelada sobre o peito. Mas o bombeiro luso-americano Arthur Sanhudo, que fez parte desse dia, a Taciana de Aguiar, irmã do João Aguiar, português morto na torre sul, e até o ilustre poeta João Luís Barreto Guimarães, em Nova Iorque nesse dia e com um relato público assombroso, feito em directo no seu blogue nos dias subsequentes, sabem desse luto e dessa dor que todos partilhamos. E os leitores do livro sabem que vestir a pele dos heróis lhes tira a indiferença em que corremos sempre o perigo de cair, se nos esquecermos. E não nos podemos esquecer.
Hoje Nova Iorque continuará a ser a capital do mundo, um lugar fascinante, a cidade que nunca dorme, mas é impossível falar dela sem lembrar esta data, como uma ferida indelével em infinita laceração.
(Fotografia de Paulo Abreu e Lima)

2 comentários:

  1. Um dia impossível de esquecer. Recordo-me de nesse dia estar na empresa e de repente vejo pessoas a correr pelos corredores em direcção à sala de reuniões onde se encontrava um écran gigante. Dava para perceber que algo de grave tinha acontecido, tal era o ar de todos. Assistimos em silêncio. Um momento impressionante. O que me ficou gravado na memória foram pessoas a atirar-se das janelas. Muito difícil de esquecer aquelas imagens. Mais tarde ouvi o último telefonema de gente que sabia jamais voltaria a falar com a família e amigos. Conseguia-se sentir o desespero. A vida consegue ser bastante cruel.

    Beijinho, Isabel e esperemos não mais assistir a imagens semelhantes. Imagens de terror.

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