segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Claro e escuro


Ao longo do tempo, evoluímos e transformamo-nos em função do que somos, do que vemos e do que vamos sentindo e experimentando.
E, mesmo se acreditamos que nos conhecemos muito e bem, constantemente nos surpreendemos com o que descobrimos de nós. Porque haverá sempre na nossa vida - e também na dos que nos são próximos - zonas secretas, inconfessáveis desejos, gestos por explicar, sentires irredutíveis a palavras.
Todos somos claro e escuro, luz e sombra, dia e noite. Mas talvez seja na aparente contradição e incerteza entre o que se revela e o que se oculta que resida grande parte do encanto de cada um de nós, no aliciante de um mistério por desvendar.
É por isso, também, que a a transparência total me parece inatingível. Por maior e melhor que seja a intimidade, em nós e no(s) outro(s) permanecerão sempre alguns recantos inacessíveis do ser, pedaços recônditos indissociáveis do fascínio que provocam em nós. Conhecemos os outros, de facto, como julgamos, ou idealizamo-los também, à mercê da nossa fantasia, inconstante, transitória e instável?
Mas há depois os momentos fulgurantes, de sintonia perfeita, de entrega total de corpo e alma e de radiosa felicidade, capazes de nos surpreender, porque alguma coisa se desata de repente e nos desarma ao revelar-se, como uma luz a brilhar na escuridão.

(Fotografia de Paulo Abreu e Lima)

Sem comentários:

Enviar um comentário