quarta-feira, 2 de abril de 2014

Às quartas, o Vasco


Há hábitos bons, coisas daquelas que mesmo repetidas nos sabem bem e das quais nos custa abdicar.
À quarta, para mim , é dia de ler Vasco Graça Moura. E então, de uma forma quase maquinal, assim que pego no DN, às vezes ainda no autocarro, procuro logo a penúltima página, onde espero encontrar a sua opinião.
Ultimamente, nem sempre acontece. E, nesse caso, desiludo-me e preocupo-me. Porque fica a faltar qualquer coisa à minha quarta-feira; e porque sei que motivos de saúde graves lhe têm atormentado a vida nos últimos tempos.
O Vasco (que abuso, tratá-lo assim...) é já como um amigo, apesar de ele não poder sequer imaginá-lo, nem fazer a mais pequena ideia de quem eu sou. Tenho por ele profunda admiração intelectual, como já referi aqui em muitas ocasiões, citando-o até.
Gosto sempre de o ler: como poeta, ensaísta, tradutor, cronista e sobre que assunto for: o acordo ortográfico, o ensino do português, a literatura, ou a política, como hoje.
Vasco Graça Moura é uma daquelas pessoas, valiosas e sabedoras, que deviam poder existir para sempre.
Esta quarta senti uma espécie de inexplicável alívio quando ao abrir o DN, ainda nem eram sete da manhã, encontrei o seu artigo. Chama-se "entre a zaragata e a algazarra" e, naturalmente, vale a pena lê-lo. Aqui fica uma pequena passagem:

Hoje, com o esfacelar dos impérios e a irrupção brutal de confltualiades de rivalidades étnicas, ninguém sabe para onde se voltar nem o que fazer. Não sabe e provavelmente não pode. O acumular de conflitos deslocaliza-se, o poder russo afirma-se, as guerras desmultiplicam-se enquanto, no Ocidente, a proximidade da campanha eleitoral para as europeias gera situações de disputa eleitoral de que não havia memória. Ninguém se entende. Nem os moderados, nem os radicais e muito menos os participantes nessas alianças de geometria variável e incessantemente em mutação vociferante. 
O Ocidente descobriu que pode viver, discutir, reclamar e vociferar e agitar-se violentamente entre a algazarra e a zaragata e apresta-se a viver disso por longo tempo. Também não vai a lado nenhum, mas ilude-se e entretém-se de um modo torpe e estéril.

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