sábado, 31 de maio de 2014

Histórias e memórias de "O Independente"

 
A Vida Portuguesa anunciara o encerramento do mês dedicado a MEC, a propósito do lançamento do seu último livro, com um encontro muito promissor: uma conversa entre Miguel Esteves Cardoso e Paulo Portas, vinte  e seis anos depois da aventura jornalística que fizera de O Independente um projecto único, importante e memorável
Não podia faltar. Gosto muito de pessoas inteligentes. Gosto de um modo muito especial do Miguel e do Paulo, cada um à sua maneira, porque são na verdade muito diferentes também. E depois, para quem é mais ou menos da minha geração, O Independente foi um marco, um espécie de "pedrada no charco". Porque nos identificávamos com aquela irreverência, porque estava muito mais perto de nós, e porque foi com ele, mais do que com o Expresso, que crescemos.
Tinha, como diziam hoje o Miguel e o Paulo, óptimos profissionais, um cuidado extremo com o grafismo, a fotografia e a qualidade do papel, um conceito editorial inspirado no Libération, e um distanciamento do poder que faziam a diferença. O caderno 3 de O Independente foi, naqueles anos, uma referência cultural de relevo.
Mais do que um fim de tarde fantástico e divertido, foi um privilégio para mim e para os que como eu (e eramos muitos) estiveram no número vinte e três do Largo do Intendente, naquele espaço lindíssimo, que alia a tradição e o bom gosto, poder ouvir os fundadores do jornal a falar dele pela primeira vez em público, com sentido de humor e sem qualquer tipo de nostalgia,  no tom descontraído de quem está entre "velhos" amigos, relembrar o arrojo e a coragem com que levaram para a frente aquela ideia inovadora, que apenas é possível quando se tem vinte anos e a vontade de mudar o mundo, mesmo reconhecendo os erros cometidos, analisados com a distância que só o passar do tempo e a maturidade permitem.
O Independente durou dezoito anos, um número icónico, como disse o Paulo. Durou "o tempo que tinha que durar" mas, sem dúvida alguma, mudou o mercado editorial, o jornalismo e a sociedade portuguesa. E por isso não se esquece.

Sem comentários:

Enviar um comentário