quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Na orla do mar


Na orla do mar,
no rumor do vento,
onde esteve a linha
pura do teu rosto
ou só pensamento
(e mora, secreto,
intenso, solar,
todo o meu desejo)
aí vou colher
a rosa e a palma.
Onde a pedra é flor,
Onde o corpo é alma.

                                    Eugénio de Andrade (Até amanhã)

(Há certos dias em que só no silêncio, ou na poesia, encontro alguma resposta a uma inquietação mais ou menos funda, mais ou menos difusa, que não chega às palavras.
E queria, também eu, saber as palavras necessárias para conservar ainda os olhos abertos ao mar, ao céu, às dunas, sem vergonha, como se os merecesse e a inocência pudesse, de quando em quando, habitar os meus dias.)
 
(Fotografia de Paulo Abreu e Lima)

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