segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Memórias de outro tempo


Ainda antes de me perder de amores pelos olhos verdes do Jean-Loup, eu quis ser como a Pipi das Meias Altas, aquela miúda ruiva, sardenta, de tranças muito espetadas, que vivia sozinha com um cavalo e um macaco, que subia às árvores e fazia mil diabruras, numa irreverência que parecia não ter limites, permitindo-se quebrar todas as regras, e sair-se sempre bem.
Era uma personagem a meio caminho entre a realidade e a ficção, que alimentava o nosso imaginário infantil num tempo em que a televisão ainda era só a preto e branco. E lembro-me, vagamente, da desilusão que senti quando a actriz que fazia de Pipi na série passou por Lisboa e, vista assim, sem tranças e sem a habitual caracterização, me pareceu afinal uma rapariga como as outras.
Depois, acompanhei com paixão os Pequenos Vagabundos, a série de culto que na época fazia suspirar todas as meninas acabadinhas de entrar na adolescência, sonhando amores felizes e pueris, misturados com mistério e aventura. E fui também à procura do Tesouro dos Templários e do Chateau sans nom; e quis  estar num campo de férias como o Camp Vert, ser eu a Marion e cantar emocionada o Chant des Adieux, com a mão do Jean-Loup a segurar a minha mão (embora algumas amigas minhas preferissem o Cow-Boy, que isto, graças a Deus, sempre houve gostos para tudo...)
Já passou muito tempo. E nem sei por que razão me  fui lembrar disto agora. Ou talvez saiba: por causa do entusiasmo com que hoje de manhã ouvia  uma menina de treze anos falar(me) do filme dos One Direction e de eu ter pensado, por momentos, que  ainda que os tempos sejam outros e muita coisa seja diferente, há determinadas vivências, típicas da adolescência, que não mudam nunca.

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