quarta-feira, 30 de julho de 2014

Tempo de partir





Não gosto de despedidas. Mesmo se, como agora, acho que devo fazê-lo e é isso que quero. Escolha minha, pois. Sem desgosto, nem amargura, que a vida faz-se para a frente. Daqui a um mês, já não estou aqui.
Sei mais ou menos o que me espera, ao contrário do que acontecia por esta altura há quatro anos. Conheço os lugares e as pessoas, em tudo o que têm de bom e mau. Agora melhor ainda. Porque este distanciamento fez-me ver tudo com outros olhos, alargando o horizonte.
E, ainda assim, recomeçar é sempre começar de novo. Quase como se fosse a primeira vez. Fazer diferente. Experimentar. Expectativa e desafio.
Estes são dias de arrumações e de balanços, de guardar papéis, objectos e memórias. De fechar assuntos e portas. Dizer adeus. Partir.
Sei que me vai fazer falta a tranquilidade da Praça da Alvalade e de quanto me pacifica a alma olhá-la da minha janela e, através dela, ver a cidade (a minha Lisboa) exuberante de vida. A despertar e a ganhar movimento, luz e cor pelas manhãs, ou  a escurecer devagar, as luzes a acender-se nos fins de tarde de Inverno, quando os carros e as pessoas se apressam na ânsia de chegar sabe-se lá onde, tudo visto cá de cima como se fosse um mundo simultaneamente próximo e distante, a que pertenço  e não pertenço.
E antecipo as saudades de cada rua, de cada recanto, e das lojas tradicionais deste bairro tão peculiar que também já é meu,  e sê-lo-á para sempre, porque deixo aqui um pedaço da minha vida e levo comigo muita coisa que só eu sei e guardo no coração.
Vou ter pena, isso sim, de não poder ter férias na Primavera, como eu tanto gosto, de ir a Sevilha em Março, à praia em Abril e fazer do mês de Junho, ou Setembro, ou Outubro, um tempo só meu. Agora voltam as férias obrigatórias como as de toda a gente, com dias e horas previamente marcados no calendário.
O que foi bom e mau faz parte do caminho, é percurso e aprendizagem. Ganhei muito mais do que perdi. Vou, pois, com o sentimento de que esta foi uma mudança que me fez bem, que me permitiu conhecer outras coisas e assim perceber mais e melhor este mundo, complexo e fascinante, que eu escolhi. No fundo, uma espécie de presente vindo do céu, que me enriqueceu muitíssimo.
Por isso, vivo tranquila estes cerca de vinte dias que me separam de um novo princípio, mas sob o signo da partida, entre o fechar de mais uma etapa e o arrepio do que é novo e aí vem. E enquanto por aqui estou, faço o mesmo de sempre, sem poder evitar que soem dentro minha da cabeça pedaços de canções que sei de cor: (...) e assim chegar e partir, são só dois lados da mesma viagem...

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Uma leitura empolgante


Gosto dos autores sul-americanos. Mais dos homens do que das mulheres, sem que haja para isso uma razão objectiva. Não aprecio Isabel Allende, por exemplo, mas gosto de Borges, Sepúlveda, Neruda, Paz, García Marquez, Vargas Llosa... E de muitos outros, também, que não me ocorrem  agora.
Este livro, Travesuras de la niña mala, li-o há meia dúzia de anos, pouco antes do Nobel, de 2010.  Gostei tanto dele, que já o recomendei a várias pessoas. Que também gostaram. Na verdade, do que li nos últimos anos, esta foi uma das histórias que mais me tocou.
A acção, que passa por Lima, Paris, Londres, Tóquio ou Madrid, começa em 1950 e estende-se por quatro décadas, percorrendo as mudanças políticas e sociais do mundo, na segunda metade do século XX. Mas, acima de tudo, o que nos conta é uma lindíssima história de amor, daquelas que marcam a vida inteira, na sua complexidade e encantamento, com todas as mágoas e alegrias, encontros e desencontros, proximidades e distâncias, que lhes são, inevitavelmente, inerentes.
E nem sei se o que nela mais me prendeu e entusiasmou foi o lado mais inconstante, misterioso e fugidio da niña mala, o amor que lhe dedica Ricardito, na sua pureza comovente, que é quase devoção, se o facto de o protagonista concretizar aquele que é também, de certo modo, um sonho meu - viver em Paris -, ou o incomensurável talento de Vargas Llosa, que consegue prender-nos do princípio ao fim. Será, provavelmente, um pouco de tudo isso.
Aqui fica então o incipit, e um pequeníssimo excerto de um livro que vale mesmo a pena ler:

Aquél fue un verano fabuloso. (...) Ocurrieron cosas extraordinárias en aquel verano de 1950.(...)
Se dejó besar, acariciar, desnudar, siempre con esa curiosa actitud de prescindencia, sin permitirme acortar la invisible distancia que guardaba frente a mis besos, abrazos y cariños, aunque me abandonara su cuerpo. Me emocionó verla desnuda, sobre la camita colocada en el rincón del cuarto donde el techo se inclinaba y apenas llegaba el resplandor de la única bombilla. Era muy delgada, de miembros bien proporcionados, con una cintura tan estrecha que, me pareció, yo hubiera podido ceñirla con mis dos manos. Bajo la pequeña mancha de vellos en el pubis, la piel lucía más clara que en el resto de su cuerpo. Su piel, olivácea, de reminiscencias orientales, era suave y fresca. Se dejó besar largamente de la cabeza a los pies, manteniendo la pasividad de costumbre, y escuchó como quien oye llover el poema "Material nupcial," de Neruda, que le recité al oído, y las palabras de amor que le balbuceaba, de manera entrecortada: ésta era la noche más feliz de mi vida, nunca había deseado a nadie tanto como a ella, siempre la querría.

domingo, 27 de julho de 2014

No calor do Verão...


Este é o tempo da supremacia do corpo, pele destapada, vontades irreprimíveis, amores urgentes. 

 (Fotografia de Paulo Abreu e Lima


sexta-feira, 25 de julho de 2014

Singularidade(s) e sintonia(s)


Amigo é feito casa que se faz aos poucos 
e com paciência pra durar pra sempre 
(...) com portão bem largo 
que é pra se entrar sorrindo 
nas horas incertas 
sem fazer alarde, 
sem causar transtorno 
Amigo que é amigo
quando quer estar presente 
faz-se quase transparente
sem deixar-se perceber 
Amigo é pra ficar, se chegar, se achegar, 
se abraçar, se beijar, se louvar, bendizer
                       (Letra da canção "Amigo é casa", Zélia Duncan)

Que cada pessoa é única, diferente de todas as outras, é uma daquelas evidências que nem merece ser referida. Mas há nessa singularidade o mistério do que ela nos acrescenta e engrandece e modifica; e momentos em que as almas se tocam e os corpos se aproximam e os limites se dissipam, em instantes únicos, que arrebatam, que surpreendem, e que ficam guardados num segredo só nosso, feito de intimidade profunda, de partilha intensa, e da certeza doce e boa de saber o que somos, e que nos temos; e isso é tão bom... E, mesmo quando a vida se pinta de outras cores, é o azul que sobressai, cor do céu e do mar, que também nos separa, azul cor da saudade do que ainda nos falta viver e se pressente apenas no que nos ata, bem no fundo do coração.
(Fotografia de José Manuel Durão)

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Enlevo


Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre.   
                                                                                               
 (Miguel Esteves Cardoso)

Há também os dias em que todas as dúvidas dão lugar à firmeza das mais profundas convicções, ao que nos marca a vida para sempre; e em que, por mais voltas que dêem os caminhos que seguimos, por mais mágoas e medos e distâncias que nos separem, a realidade parece poder ajustar-se aos sonhos mais loucos e aos mais fundos e secretos desejos.
E então tudo parece encaixar-se na grandeza sublime, requintada e festiva que enche de luz e de força o coração e, a espaços, transforma o mundo num lugar onde só cabe o amor e o embevecimento.
Hoje, é isto!...

terça-feira, 22 de julho de 2014

Cada tiro cada melro, ou a mediocridade reinante...



Nem de propósito: ainda a respeito do meu post anterior e de uma certa mediocridade dominante em meio docente, que tem a ver, entre outras coisas, com as tais pessoas que se permitem "representar" os professores, vem a presidente da Associação de Professores de Português, de novo, criticar o Novo Programa da disciplina, que está muitíssimo bem feito, e retomar aquela ridícula questão de Sophia de Mello Breyner estar ou não nos programas.
No Público de hoje, vem a resposta à inenarrável Edviges, (até o nome...) a tal que achou uma vez um exame difícil porque "obrigava os alunos a pensar".
O artigo, que vem na sequência de um outro, publicado no dia 9 "A presidente da Associação de Professores de Português deve andar muito distraída" tem desta vez o título "Ler o Novo Programa de Português sem equívocos nem omissões", e pode ler-se na íntegra aqui. Não resisto, no entanto, em transcrever algumas passagens. Diz o seguinte:
Entendeu a presidente da Associação de Professores de Português (APP) servir-se da justa homenagem a Sophia de Mello Breyner Andresen, recentemente trasladada para o Panteão Nacional, como arma de arremesso contra o novo Programa e Metas Curriculares de Português do ensino secundário, na pessoa da coordenadora da equipa responsável pela sua elaboração, professora doutora Helena Carvalhão Buescu. (...)
Voltando ao novo Programa que entrará em vigor em 2015/16, importa que se consiga ver o que nele é, de facto, corajosamente novo: a valorização da Literatura Portuguesa e a centralidade do princípio da complexidade e da noção de género textual, factores decisivos de qualificação dos textos (orais e escritos, literários e não-literários). Quanto ao aspecto particular do estudo de Sophia, trata-se de uma falácia tentar separar o ensino básico do ensino secundário. Importa referir que, com a escolaridade obrigatória do 1.º ao 12.º ano, os alunos que entram no ensino secundário são os mesmos que, ao longo de vários anos do ensino básico, tiveram a oportunidade de estudar a obra de Sophia. (...)
O afecto aos clássicos (entendido este termo como corpus selecto de textos que nunca estão definitivamente lidos), convém lembrá-lo, não pressupõe a sua intocabilidade, mas a capacidade de os ler e dar a ler a contracorrente de qualquer política de autor ou livro único. Sophia de Mello Breyner é parte fundamental do cânone escolar, mas são-no também Jorge de Sena, António (não Alexandre) Ramos Rosa, Herberto Helder, Ruy Belo, Luiza Neto Jorge e quantos integram o Programa e a lista de poetas do 12.º ano, a quem ninguém de boa-fé negará importância na formação escolar de cidadãos proficientes, cultos e autónomos, isto é, mais exigentes na sua relação com o mundo. 
De facto, como dizia hoje Maria Alzira Seixo no Facebook, também a este respeito: "Sejamos críticos, não facciosos. Atacar o Programa de Português só por ser encomendado pelo Crato é desprezar a cultura! O programa é bom, só atacado por razões políticas. Rejeitam o pouco que há de bom para ter o gosto de dizer que tudo é mau?"
E não há melhor prova que esta, acho eu, de que quem é inteligente faz a diferença...

Maus exemplos



Um grupo de professores pertencente ao Movimento Boicote e Cerco invadiu a Escola Rodrigues de Freitas, no Porto. A invasão registou-se já depois das 10h30, hora a que devia começar a prova de avaliação de professores contratados com menos de cinco anos de serviço. De acordo com a reportagem da Renascença no local, os elementos do grupo forçaram a entrada nas instalações, chegando a empurrar alguns funcionários. Há elementos da PSP no interior da escola, mas os professores em protesto ainda não foram retirados e continuam a fazer grande ruído, exigindo, por exemplo, a demissão do ministro da Educação, Nuno Crato. 

Leio isto na Comunicação Social e não posso deixar de me sentir envergonhada pelo mau exemplo que os professores dão, uma vez mais, de si mesmos, em primeiro lugar, e também da classe a que pertencem. Depois do escândalo que foi no ano passado a greve aos exames nacionais, depois do episódio de Dezembro último; e de tantos outros, que prefiro nem recordar...
Têm os professores, naturalmente, direito à contestação e a lutar pelo que julgam ser os seus direitos. Nem me interessa agora se têm ou não razão, se a prova não sei quê e o Ministro não sei que mais.
O que me impressiona e indigna é esta ideia do "vale tudo", é o baixo nível, é o querer impor-se pela força. Ainda que tivessem razão, perdê-la-iam com este tipo de atitudes e de acções. Mas o pior é a imagem que fica e o que tudo isto revela, para os seus alunos, antes de mais, mas também para a sociedade, de uma forma geral.
Como podem os professores vir depois falar em respeito e em autoridade? Como podem deixar-se "representar" por uma criatura como Mário Nogueira? Como podem aceitar ser instrumentos de aproveitamento político?
É claro que também há bons professores, inteligentes, esclarecidos, competentes e capazes de pensar pela sua cabeça. Mas, infelizmente, não são a maioria. E esses, sendo muito poucos, nunca aparecem.
Hoje, os professores voltaram a dar um triste espectáculo, que me lembrou as palavras de um amigo meu a quem eu um dia contava algumas coisas que presenciara na escola e que, chocado com o que ouvia, me disse assim: "Não me contes mais... Só de pensar que é a essa gente que nós entregamos os nossos filhos..."

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Yves Saint-Laurent



O que torna este filme verdadeiramente marcante é, quanto a mim, a notável interpretação do par principal, Guillaume Gallienne (como Pierre Bergé) e Pierre Niney, sobretudo este último, que consegue transmitir de maneira tocante a figura em simultâneo tímida e genial, frágil e atormentada, excessiva e criadora de Yves Saint-Laurent. E é isso, acima de tudo, que nos prende. Mas não deixa de ser, também, um belo filme sobre o mundo da moda.
Realizada por Jalil Lespert, a história inicia-se em 1957 quando, com apenas 21 anos, Yves Saint-Laurent é nomeado para dirigir a casa Christian Dior, salvando o negócio da ruína financeira; e acompanha depois duas décadas da sua vida (até 1976 - considerado por muitos, e até por ele mesmo, o auge da sua carreira), que incluem o encontro com Pierre Bergé e o modo como isso transforma a sua existência e a marca para sempre, quer na conturbada relação amorosa que se estabelece entre ambos, quer na parceria no mundo dos negócios, que leva à criação da marca com o seu nome, o que revoluciona o mundo da moda, aliando sofisticação e sentido prático, elegância e simplicidade.
Mais do que outra coisa qualquer, o filme conta uma simples história. E, embora faça uma interessante reconstrução de época, não acentua o carácter vanguardista e inovador que teve Yves Saint-Laurent em termos artísticos e até sociológicos, (é a ele que se deve a popularização do prêt-à-porter, por exemplo), mas preocupa-se antes com a sua dimensão humana. E aí perde-se um pouco...
Enfim, não será um grande filme - não é, decerto! - mas vale bem uma ida ao cinema.Eu gostei!...

domingo, 20 de julho de 2014

Ainda o Tóino...



Talvez porque quando era pequena havia todos os dias pelo menos dois jornais lá em casa, ainda no tempo dos matutinos e  vespertinos, habituei-me à leitura diária do jornal. De tal maneira que, mal saio de casa,  não dispenso a sua compra, num gesto obrigatório que acompanha o primeiro café do dia. E, por isso, raramente consulto as versões on-line. Não me dá jeito nenhum...
Sou uma daquelas pessoas à antiga, que acha que um jornal, como um livro, é para ser lido em papel, para se segurar nas mãos, mesmo que as suje ligeiramente, porque ambos têm um cheiro e um toque próprios. E porque há nos dedos a deslizar pelas páginas uma quase sensualidade, que permite estabelecer uma relação entre a leitura e o corpo; e assim implicar-nos mais. Não importa!...
Tudo isto porque, hoje, ao ler o DN, como de costume, encontrei,  no artigo de opinião de Alberto Gonçalves, um texto com o qual concordo em absoluto. E que não resisto a transcrever aqui:
António, um rapaz de Lisboa
A cada semana, António Costa revoluciona a ciência económica. Primeiro foi a tese de que a riqueza é preferível à austeridade, inovadora aplicação na macroeconomia do princípio de Maria Antonieta. Depois, descobriu que o problema não é o excesso de licenciados, mas a falta de empregos para licenciados (criam-se os empregos e a chatice fica resolvida). Agora, explicou a uma embevecida plateia de sindicalistas que "não há crescimento sustentável com endividamento, mas também não há crescimento sustentável com empobrecimento", sentença que se comenta sozinha.
Se não se aproximassem as férias, o Dr. Costa ainda estaria a tempo de dizer que: 1) o investimento público é melhor do que o privado excepto nos casos em que o investimento privado é melhor do que o público; 2) o Estado social é sustentável desde que saia baratinho aos cidadãos; 3) Portugal não deve sair do euro enquanto os euros entrarem em Portugal; 4) pelo menos na perspectiva dos destinatários, os salários altos são preferíveis aos salários baixos; 5) o Pato Donald é um boneco.
Brincadeiras à parte, o que é isto? Não é de agora que Portugal não se pode queixar em matéria de produção de políticos absurdos. Mas entre as nulidades sem uma ideia na cabeça e o Dr. Costa, em cuja cabeça fervilham centenas de ideias desconchavadas, vai uma diferença considerável. Já nem falo da tentativa de vender o homem a título de salvador da pátria: falo do homem propriamente dito e da deprimente comparação com aqueles a quem sonha suceder. Ao pé do Dr. Costa, Passos Coelho passa por um modelo de estadista, Sócrates por um sujeito quase ponderado, Santana por um governante responsável, Barroso por um gigante do pensamento, Guterres por um paradigma da racionalidade financeira e Cavaco, ele sim, pelo salvador da pátria que nunca foi. Perante o Dr. Costa, até o jovem António José Seguro parece habitar o mesmo planeta que os restantes mortais.
Em suma, o Dr. Costa é um embaraço ambulante. Logo, provavelmente será depois do Verão o líder do PS e, se os amigos o mantiverem calado entretanto, hipotético primeiro-ministro no ano que vem. Um pessimista vê à distância e, na lógica do "depois de mim virá", tende a imaginar que espécie de calamidade pode aparecer ao País após o Dr. Costa. Um optimista desconfia que, após o Dr. Costa, é improvável haver País.

Eu, que sou uma optimista e gosto sempre de encontrar o lado positivo de todas as coisas, só consigo ver, no que nos espera no imediato, a vantagem de os lisboetas se verem livres dele.
O pior é o resto: é que, quanto ao País,  - e aqui não resisto à piada fácil - o futuro parece anunciar-se bem negro...
 

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Um convite à calma



Os fins de semana assim, com dias cinzentos e chuvas fora de época, têm também um lado bom: é então que o sossego e o recato apetecem mais e sabem melhor, em momentos de silêncio, ou no doce balancear de uma melodia  suave.

(Fotografia de mfc, do blogue Pé de Meia)


quinta-feira, 17 de julho de 2014

Confiança e intuição



Li no jornal, num daqueles estudos pseudocientíficos de credibilidade mais ou menos duvidosa, que tendemos a ser amigos de pessoas que têm genes semelhantes aos nossos.
Não acredito nada nestas coisas, mas penso muitas vezes em por que obscura razão nos sentimos muito próximos de certas pessoas, que às vezes mal conhecemos, e achamos que alguma coisa nos liga ainda que não saibamos explicar o que é, e cremos intuitivamente que podemos confiar nelas e abrir-lhes o coração, enquanto com outras não acontece o mesmo; e por mais simpáticas, doces e queridas que se nos mostrem, não nos tocam da mesma maneira.
Empatias, afinidades, interesses ou valores comuns e o mais que for podem explicar em parte a questão; mas há também, se calhar, em tudo isto, uma boa dose do que há de mais inexprimível no sentimento, naquela zona sombria e secreta que está para além de todas as racionalidades e de todas as palavras. E que nos leva a afeiçoarmo-nos só porque sim, por causa de uma sintonia que nos enche a alma, de um mistério qualquer que nos enternece e encanta, que começamos por saber apenas no coração e depois se vai confirmando em subtileza, na partilha que permite que a intimidade e a estima se desenvolvam devagar, até que a cumplicidade e os laços se instalem definitivamente.
Como a toda a gente, a vida também me foi deixando cicatrizes e nódoas negras, que não fazem de mim, no entanto, uma pessoa mais céptica ou mais desconfiada; porque não é essa a minha natureza. Apenas só, talvez, mais cautelosa. E, na verdade, a minha intuição também já me enganou algumas vezes; para o bem e para o mal.
Por isso não me aflijo: deixo que o tempo e os afectos vão fazendo o seu caminho e, como sempre, sigo o que me diz o coração. E o resto logo se vê...

(Fotografias de José Manuel Durão e de Paulo Abreu e Lima)

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Reconciliação à vista


Do desagrado que me causou ter encontrado "encharpes" com 30% de desconto no Corte Inglés, já falei aqui. Mas, não satisfeita, cheguei mesmo a escrever-lhes, sugerindo mais atenção a "pormenores" como o da correcção linguística, que não são de todo insignificantes.
Posso aceitar que digam que exagero, mas sou especialmente sensível a estas coisas e detesto erros. Parecem-me sempre sinal de um "desmazelo" qualquer, mais difícil de compreender num espaço comercial em que um certo requinte e bom gosto se querem impor como  imagem de marca.
E, no entanto, apenas três dias depois, quando lá volto, vejo que no mesmo local o cartaz foi substituído por outro com a palavra  bem escrita  - e, agora, nem o acento lhe falta...
Não sei se foi o meu mail que contribuiu para que tal acontecesse, embora goste de acreditar que sim. Seja como for, o que importa é que aprecio quem reconhece os erros, os corrige e aprende com eles.
O Corte Inglés volta a estar no topo das minhas preferências, pois então!...

terça-feira, 15 de julho de 2014

Mais além, numa tarde quente...


Em certas tardes de Verão, até eu que sou acima de tudo da cidade e do azul, seja céu, mar, ou rio, sinto uma súbita vontade de abandonar todas as obrigações e incumbências e, simplesmente, partir. 
E sonho então um lugar amplo, sossegado e verdejante, onde possa alongar-me preguiçosamente numa sombra qualquer e só ficar quieta, esquecida das horas e de tudo o que me limita e condiciona, na languidez entorpecida e quase lasciva que o calor alimenta, sem pensar em nada, a sentir a frescura da brisa suave que faz o cabelo esvoaçar devagarinho e o mundo parecer um lugar sem pressa.
Depois, na claridade límpida do dia que me inunda os olhos e a vida, maravilhar-me com o feitiço do que vejo, e me serena, e pacifica a alma, e faz acreditar que tudo é grande e bom e que não há impossíveis; e entregar-me ao sonho assim, embalada pelas mais doces fantasias e por um longínguo rumorejar de água, no incessante e perpétuo movimento de tudo sempre a transformar-se.

(Fotografia de Maria Cristina Guerra)

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Bleu, blanc, rouge

 
Hoje, Paris está em festa, como a França inteira. É dia de fogo de artifício, de desfiles militares e de bailes, muitos bailes, em cada esquina de cada "quartier". Hoje, é dia de dançar a valsa ou a java, como eu dançaria nos teus braços a noite inteira, de coração coladinho ao teu...

(Fotografia de Maria Cristina Guerra)

sábado, 12 de julho de 2014

Uma desilusão...


Quem me conhece sabe como eu gosto do Corte Inglés, que é o meu local de compras preferido, onde encontro (quase) tudo o que preciso e onde vou pelo menos uma vez por semana. Cliente habitual e atenta, conheço-lhe todos os cantos, sei exactamente quais os sítios onde importa passar e aqueles onde não vale a pena deter-se, e descubro coisas que mais ninguém parece ver. Há até quem diga, meio a sério e meio a brincar, que é a minha segunda casa. Ou o meu "escritório", noutras versões.
E então não é que, ao mais alto estilo de "no melhor pano cai a nódoa", num tempo em que os erros estão cada vez mais por todo o lado e são encarados com o complacente encolher de ombros do "que importância  tem isso?", mesmo neste lugar mais ou menos requintado e onde impera o bom gosto, eu fui descobri que há "encharpes" a 30% de desconto?
Há dissabores maiores, dir-me-ão, mas por este andar um dia destes ainda vou lá encontrar vestidos de mangas "à cave"... 

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Mundo civilizado



Em Paris, ao fim do dia, mesmo no meio da semana, os jardins e as praças enchem-se de gente que se percebe vir do trabalho, que se senta na relva, estende uma toalha e fica ao sol a comer, a beber e a conversar tranquilamente. Ou em silêncio, a ler. E não deixa lixo no chão...
Muito diferente do que se vê por aqui, em que vai tudo enfiar-se no Centro Comercial, ou a correr para casa, fazer o jantar e ver a telenovela.
E, mesmo que assim não fosse, haveria certamente um qualquer grupo de grunhos a ouvir música aos berros, outro a jogar futebol, e ainda alguns cãezinhos a correr desenfreadamente pelo meio das pessoas, e a largar cócós em todos os cantos, diante da passividade dos donos, que acham tudo muito natural.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Dedo na ferida


Entre muitas outras coisas que correm menos bem nas nossas escolas, há duas tremendas obsessões. As "grelhas" (de que já, de certo modo, falei aqui); e também as reuniões.
Reúne-se muito nas escolas. Demais. Reúne-se por tudo e por nada. Mais por nada do que por tudo. E perde-se um tempo infinito a "discutir" pormenores insignificantes, deixando de lado o essencial. É assim quase sempre e por todo o lado.
Não é que eu defenda a ideia do "cada um por si", mas não tenho dúvida que com apenas um terço das reuniões que se fazem actualmente, as escolas não funcionariam pior. Nem o ensino teria menos "qualidade". Quem, como eu, conhece pelo lado de dentro e de fora como as coisas funcionam, sabe que a generalidade das reuniões são ineficazes e improdutivas, que servem quase só para perder tempo e energias, que algumas se fazem apenas para cumprir calendário, ou são meramente informativas e se resolveriam com uma simples comunicação escrita. Há as que facilmente se estendem por três ou quatro horas - o que me parece muito para lá do aceitável - e cujo resultado prático é coisa nenhuma.
Ser professor,  já se sabe, não é nada fácil. E ainda assim, mesmo sabendo como eu sei hoje melhor que nunca, porque é com essa realidade que lido todos os dias, que trabalhar numa escola é cada vez mais uma profissão de risco, também tenho a certeza que muito do cansaço e da burocracia de que os professores hoje tanto se queixam são eles próprios que a inventam, complicando o que é simples, ignorando que o trabalho de ensinar e aprender se desenvolve maioritariamente na sala de aula e que é preciso tempo e disponibilidade mental para o preparar com rigor e cuidado, preocupando-se em ensinar o que não interessa - "orações subordinadas substantivas", por exemplo, - focados no imediatismo de "preparar para o exame" (que parece ser o seu objectivo máximo), em vez de levantar a cabeça e olhar para longe e pensar que importa acima de tudo fazer os alunos ler, escrever e pensar; e ver o mundo com outros olhos. Esquecendo que se um aluno estiver preparado para a vida enfrenta qualquer exame e o inverso não é tão verdadeiro, esquecendo-se de ser felizes, afogados em papéis, em grelhas mais ou menos complicadas que eles criam, e em relatórios que ninguém lê; calando-se quando devem falar, encolhendo os ombros a quase tudo, sem se questionarem, sem serem capazes de dizer não.
Não tem por isso razão Maria Filomena Mónica, que escreveu um livro baseado nos diários de não sei quantas professoras e mais umas alunas e uma encarregada de educação. Não pretende ser um estudo científico. Nem poderia. Não li o livro e, portanto, não quero alongar-me sobre ele. Mas vi um dia a autora a falar na televisão dizendo coisas do género: que hoje os professores não têm tempo para nada porque depois das aulas têm que ir para casa responder a inquéritos e preencher relatórios que o Ministério da Educação manda. Mudei de canal. Não sei quem lhe terá dito isto, mas não corresponde de modo algum à verdade. E é sempre mais fácil deitar culpas para quem está acima, seja o Ministério, ou o Governo, ou o que for.
Têm razão de queixa os professores, naturalmente, que são com frequência e de forma injusta pouco reconhecidos, desconsiderados, maltratados, mal pagos. Mas também são muitas vezes vítimas da sua passiva mediocridade, da sua impreparação e falta de cultura. Há excelentes professores, é claro, que fazem um trabalho notável em péssimas condições. Mas não serão, infelizmente, a maioria.
Sei do que falo porque, nesta profissão a que pertenço, há coisas de que me orgulho e muitas outras que quase me fazem corar de vergonha. Será igual em todas, decerto, mas falo só do que conheço.
Enfim, razoabilidade e bom senso é o que é preciso. E, se houvesse ao menos isso, já seria bom...

terça-feira, 8 de julho de 2014

Não vamos calar-nos!...


Pode ser exagero meu, mas tenho a sensação que, desde o desaparecimento de Vasco Graça Moura, se fala menos na aberração do AO. 
Felizmente, apesar de um certo silêncio relativo à questão, que lentamente vai começando a alastrar e a tornar-se dominante, naquele encolher de ombros tão tipico da maneira de ser portuguesa para quem quase tudo "tanto faz", o que permite que hoje se aceite qualquer coisa - incluindo textos que misturam as grafias pré e pós-acordo -, ainda há quem se revolte e se indigne, e continue a falar nisso. 
É o caso de Pedro Correia, que é também um excelente defensor da língua portuguesa, (como o Vasco e tantos outros), que escreveu o fantástico Vogais e Consoantes Politicamente Incorrectas do Acordo Ortográfico (que deveria passar a ser leitura obrigatória) e que ainda hoje no "Delito de Opinião" se referiu ao assunto nestes termos: 
(...) As sucessivas reformas da ortografia portuguesa - já lá vão quatro no último século - são um péssimo exemplo de intromissão do poder político numa área que devia ser reservada à comunidade científica. Cada mudança de regime produziu uma "reforma ortográfica" em Portugal. Para efeitos que nada tinham a ver com o amor à língua portuguesa, antes pelo contrário. Cada "reforma" foi-nos afastando da raiz original da palavra, ao contrário do que sucedeu com a esmagadora maioria das línguas europeias - como o inglês, o francês, o alemão e em certa medida o espanhol. A pior de todas essas reformas foi a de 1990 que separa famílias lexicais produzindo aberrações como "os egiptólogos que trabalham no Egito[sic] são quase todos egípcios" ou "a principal característica dos portugueses é terem um forte caráter[sic]". Esta ruptura com a etimologia ocorre, convém sublinhar, num momento em que nunca foi tão generalizada a aprendizagem de línguas estrangeiras entre nós. Assim, enquanto os políticos de turno pretendem impor a grafia "ator"[sic] à palavra actor, os portugueses continuarão a aprender "actor" em inglês, "acteur" em francês, "actor" em castelhano e "akteur" em alemão. Não adianta deitar fora a etimologia pela porta: ela regressa sempre pela janela. Através de idiomas nunca sujeitos aos tratos de polé de "acordos ortográficos" destinados a produzir legiões de analfabetos funcionais. 

Achar que isto não é importante, parece-me de uma grande insensibilidade e inconsciência, para dizer o mínimo. Resta a certeza de que os que estão contra esta enormidade e se recusam a aplicar o "Aborto Ortográfico" (e que, afinal, nem são assim tão poucos) não se calarão nunca.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Acabar assim?

 
Em certos dias não podia evitar a saudade do tempo em que o amor lhe enchia as horas e os dias e, virado do direito ou do avesso, lhe atravessava o corpo inteiro. O tempo em que o desejo lhe ardia na pele e as vontades  se adivinhavam no fundo dos olhos, ou ao mais leve toque da ponta dos dedos. Em que até  as esperas, a dor e o desânimo lhe pareciam sedução, na doce certeza recíproca de não poderem perder-se. Nem afastar-se. Porque se sabiam perto, mesmo na ausência e na distância, unidos para sempre naquela cumplicidade linda que marcava as suas vidas, e mais ninguém podia saber quanto era excessiva e desconcertante, misteriosa e profunda, forte e frágil; e de que modo valia a vida, no momento do abraço sem pressa em que se perdiam para se encontrar, ou na tranquilidade branda que chega depois da exaltação do amor.
E procurava entender o que pudera ter acontecido que viera alterar e corromper aquele encantamento, hesitando entre o que poderia doer mais: uma ruptura súbita e definitiva, ou um lento e penoso distanciamento, ao mesmo tempo que gostava de acreditar, ainda, lá bem no fundo, que nunca nada os conseguiria realmente separar.
Mas depressa afastava a tristeza, engolia as lágrimas, sacudia o cabelo e voltava a levar a vida para a frente, embrenhando-se nos mil e um afazeres do quotidiano, deixando-se encantar pelas pequenas alegrias que podiam também trazer-lhe felicidade, ou até enternecer, às vezes, pelo brilho e a doçura de outros sorrisos e de outros olhares.

domingo, 6 de julho de 2014

A felicidade também é isto...


Um lugar simpático e acolhedor num canto semi-escondido da cidade, comida agradavelmente gostosa, um vinho escolhido com o requinte e a precisão de quem é entendido e sabe o que faz, e um grupo de amigos que o acaso e afinidades várias permitiram juntar, reunido noite dentro, conversas e risos à solta, falando sobre tudo de  olhos nos olhos e, acima de tudo, saboreando o prazer de estar junto e de sentir que se vão tornando mais apertados os laços que o unem...
No fundo, é simples: trata-se de saber aproveitar as coisas boas e bonitas que a vida nos dá, e desfrutá-las em absoluta plenitude. Tão bom!...

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Tranquilidade

 
Regra geral, a chegada do fim de semana traz consigo uma sensação de indescritível bem-estar. Gosto especialmente do tempo que vai do fim de tarde de sexta-feira à manhã de Domingo e das promessas e expectativas que aí se concentram. É uma espécie de miniférias... E pressinto a chegada de muitas coisas boas, num doce sossego que me devolve a paz.
(Fotografia de Paulo Abreu e Lima)

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Platero e Eu


Devia ter uns nove ou dez anos quando o li pela primeira vez, assim, tal e qual, na edição "Livros do Brasil", de capa verde. Nunca mais o voltei a ler, mas também não o esqueci de modo algum, como aconteceu com tantos outros que, ao longo dos anos, me passaram pelas mãos. Só há poucos dias, quando casualmente lhe voltei a pegar, e o folheei, e li algumas passagens, percebi ao relembrar cada palavra, cada pequeno capítulo, como era grande e funda a impressão que ele me causara na infância. 
É na verdade tocante a história de amizade entre Platero, o burro, e o seu dono, o narrador; e é encantadora a forma simultaneamente simples, terna e poética através da qual se descreve o que vão vendo, e que quase nos permite acompanhá-los nas deambulações pelo campo andaluz.
A narrativa, na sua singularidade quase pueril, valeu ao autor, Juan Jamón Jimenez, o prémio Nobel da Literatura em 1956, e poderá - sei-o agora - ter ajudado a despertar em mim a paixão pela beleza das palavras e pelas emoções e sensações que elas provocam em nós.
Este é, sem dúvida, um daqueles livros de leitura obrigatória...
 Platero é pequeno, peludo, suave; tão macio, que dir-se-ia todo de algodão, que não tem ossos. Só os espelhos de azeviche dos seus olhos são duros como dois escaravelhos de cristal negro. Deixo-o solto, e vai para o prado, e acaricia levemente com o focinho, mal as roçando, as florinhas róseas, azuis-celestes e amarelas… Chamo-o docemente: “Platero”, e ele vem até mim com um trote curto e alegre (…). Os camponeses, vestidos de escuro e vagarosos, param a olhá-lo: — Tem aço… Tem aço. Aço e prata de luar, ao mesmo tempo.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Sophia

 
No dia em que se cumprem dez anos da sua morte, Sophia de Melle Breyner Andresen, um dos nomes maiores da nossa literatura, é hoje trasladada para o Panteão Nacional. Sophia merece, quanto a mim, todas as honras e homenagens. Merecia até, mais que Saramago, o Prémio Nobel. Mas isso são outras histórias...
O que já me parece insuportável é que, a propósito das cerimónias de hoje, venha a comunicação social, primeiro, e as redes sociais, logo em seguida, fazer declarações como as que podem ser lidas aqui. Ao que parece, a filha de Sophia ter-se-á mostrado muito incomodada e terá dito isto, - "Retiraram a poesia da minha mãe dos currículos escolares para lá colocarem poetas menores, considero mesmo que há uma tentativa subterrânea para a obliterarem." - a que se seguiu um coro de vozes indignadas, "na verdade, parece impossível, etc. e tal".
Ora tudo isto é mentira e convinha, antes de mais, ir verificar o que se passa. Qualquer pessoa que consulte as Metas Curriculares para o Ensino Básico pode confirmar que, na lista de obras e textos para educação literária, o nome de Sophia de Mello Breyner consta em todos os anos dos segundo e terceiro ciclos, do quinto ao nono, sem excepção, em prosa e em poesia.
Mas podemos até admitir que, caso não tivesse sido uma pessoa tão inteligente e sabedora como Helena Buescu a liderar a equipa responsável pelas Metas Curriculares, e antes um qualquer daqueles "iluminados" como os que são responsáveis por aberrações tais como o AO, ou (pior ainda) a Nova Terminologia Linguística (de que ninguém fala), isso tivesse acontecido. Caberia, ainda assim, a cada professor de Português contornar a questão. E temos, graças a Deus, liberdade para o fazer. Por mim, fazendo ou não parte dos programas e currículos, Sophia terá sempre um lugar central na minha sala de aula.
E porque, para lá de todas as polémicas mais ou menos vazias de sentido, o que importa, de facto, são as palavras que nos deixou, elas aqui ficam:

Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo 

Mal de te amar neste lugar de imperfeição 
Onde tudo nos quebra e emudece 
Onde tudo nos mente e nos separa. 

Que nenhuma estrela queime o teu perfil 
Que nenhum deus se lembre do teu nome 
Que nem o vento passe onde tu passas. 

Para ti eu criarei um dia puro 
Livre como o vento e repetido 
Como o florir das ondas ordenadas.

terça-feira, 1 de julho de 2014

Evidências


 
Esta é uma canção antiga, que se ouvia muito quando eu era adolescente. Datada, pois. Mas hoje fui buscá-la ao fundo da memória e, subitamente, voltei a lembrar-me dela.
Talvez porque, apesar de nunca esquecer a importância dos amigos na minha vida nem o quanto me são fundamentais, há certos dias em que isso se me torna ainda mais óbvio.