segunda-feira, 27 de abril de 2015

A falta que o Vasco nos faz...

 
Faz um ano, foi um dia triste. Vasco Graça Moura deixou de estar connosco neste mundo, embora tenham ficado  para sempre as suas palavras, as quais perdurarão até para além de nós.
Por mim, fazem-me agora muita falta as crónicas do DN (como esta, de Março de 2014 e ainda tão actual) e as quartas-feiras nunca mais foram iguais.
Diz Maria Alzira Seixo, uma das suas melhores amigas, que ele estará feliz onde estiver. Mas aqui, onde já não está, sobra a saudade.
 
Blues da Morte de Amor 
 
já ninguém morre de amor, eu uma vez
andei lá perto, estive mesmo quase,
era um tempo de humores bem sacudidos,
depressões sincopadas, bem graves, minha querida,
mas afinal não morri, como se vê, ah, não,
passava o tempo a ouvir deus e música de jazz,
emagreci bastante, mas safei-me à justa, oh yes,
ah, sim, pela noite dentro, minha querida.

a gente sopra e não atina, há um aperto
no coração, uma tensão no clarinete e
tão desgraçado o que senti, mas realmente,
mas realmente eu nunca tive jeito, ah, não,
eu nunca tive queda para kamikaze,
é tudo uma questão de swing, de swing, minha querida,
saber sair a tempo, saber sair, é claro, mas saber,
e eu não me arrependi, minha querida, ah, não, ah, sim.

há ritmos na rua que vêm de casa em casa,
ao acender das luzes, uma aqui, outra ali.
mas pode ser que o vendaval um qualquer dia venha
no lusco-fusco da canção parar à minha casa,
o que eu nunca pedi, ah, não, manda calar a gente,
minha querida, toda a gente do bairro,
e então murmurarei, a ver fugir a escala
do clarinete: — morrer ou não morrer, darling, ah, sim.
 

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