sexta-feira, 31 de julho de 2015

Supremacia



Entre nós nunca foram precisas muitas palavras, porque sempre foi pelos sentidos que melhor nos entendemos. E, ainda hoje, é nos teus olhos, no som da tua voz e nos momentos mais simples e perfeitos em que te tenho perto que me vem esta certeza de que seja o que for, venha o que vier, nada poderá igualar-te; e que para lá do que não tem qualquer valor ou importância é o essencial que permanece e faz sentido. 
Por isso levo-te comigo para onde for, ligado por um fio invisível e antigo que te ata ao meu peito e não se consegue quebrar, mesmo sabendo que nunca nada está garantido e que a vida pode a cada instante surpreender e modificar(se). 
Mas há na nossa história comum tantas alegrias e tristezas, profundas ou passageiras, tantas birras e amuos, tantas mágoas e risos, e ternura, e uma cumplicidade e afecto tão desmedidos, que foram crescendo pelo tempo fora, entre palavras ditas ou apenas adivinhadas, silêncios sublimes, preguiça e companhia, desafio e descoberta, que são agora aconchego e porto seguro, apego e confiança, que se deixa levar sem saber porquê, e pode até enfraquecer, mas não se desvanece, porque na  lógica serena do tempo que passa continua a ser luz, prazer e  felicidade.

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Amores do passado


Tinham passado muitos anos. Nem queria fazer as contas para saber ao certo quantos seriam. Isso não lhe importava. Lembrava-se muito bem de quase tudo. Da amizade enorme, franca e genuína que existira entre eles. E daqueles amores desencontrados, como na Quadrilha de Drummond de Andrade: ela gostava dele, ele gostava de outra, que por sua vez gostava de outro, com quem casou. Eles não tinham casado um com outro, não tinham sequer chegado a ser namorados, mas falavam todos abertamente do que sentiam e de como o viviam. Eram felizes assim. Ela amara-o com loucura e com paixão, na ingenuidade de quem guarda em si todos os sonhos e ainda tem tudo para aprender. Conservara na cabeça, para sempre, o sorriso doce dele, que naquela altura lhe enchia o coração. E recordava os olhos escuros, enormes, o cabelo encaracolado onde tantas vezes quisera afundar as suas mãos, e as longas conversas em horas esquecidas, como se fosse eterno o tempo de estarem juntos e não houvesse mais mundo para além deles.
Lembrava-se sobretudo de umas férias da Páscoa que lhe tinham parecido o céu, passadas numa aldeia pequena do interior, de nome inteiramente em sintonia com a época pascal, e de como quase desfalecera de comoção na noite em que ele a tomou nos braços e encostaram os corpos e se deixaram embalar pela suave cadência da voz de Paul McCartney, que entoava yesterday, sem que ninguém pudesse adivinhar o turbilhão que lhe revolvia o corpo inteiro. E dos dias que passaram despreocupados, em risos e parvoíces, conversas sérias e confidências, silêncios e canções, cantadas em conjunto, ao som da viola, na alegria de estarem juntos e na confusão dos vinte anos. Nunca mais pudera esquecer de como então gostava de o ouvir cantar a noite passada, de como se derretia e deslumbrava quando o ouvia dizer: então tu olhaste / depois sorriste/ abriste a janela e voaste, mesmo sabendo que aquelas palavras não lhe eram dirigidas; e do beijinho de boa-noite que davam antes de dormir, e tantas outras pequenas coisas queridas que fizeram daqueles dias que viveram juntos o paraíso, tudo só pureza, emoção e sentimento, numa aldeia de nome doce, a saber a amêndoa.
Depois, o tempo e as voltas da vida afastaram-nos sem se saber quando nem porquê, como tantas vezes acontece mesmo com quem se quer bem; e até a amizade se perdeu pelo caminho. Vieram outros amores, mais concretos e carnais, apaixonados e intensos, felizes e infelizes, e aquele passado ficou arrumado num canto escuro e secreto do fundo do coração. Pouco soube do que foi feito dele entretanto.
Era estranho, por isso, (re)encontrá-lo agora, mesmo que fosse só virtualmente. De repente voltavam as memórias longínquas, adormecidas dentro de si, embora tudo fosse já muito diferente. Olhava-o na fotografia, grisalho, e apenas o sorriso era o mesmo de outrora. Às vezes pensava que gostaria de lhe falar, mas não saberia exactamente o que dizer, com tantos anos, e histórias, e vidas a separá-los, no eterno paradoxo feito de nostalgia e indiferença, fascínio e desencanto, e tudo o que é e não é, e se quer e não quer.
Agora já não adiantava pensar no que poderia ter sido se tivesse sido de outra maneira. Gostava de pensar que só acontece o que tem mesmo que acontecer. E agora, a vida tinha-lhe ensinado muita coisa. Por isso sabia que o tempo não volta atrás e que só o presente importa;  mas sabia, também, que os grandes amores deixam em nós uma marca que nunca se apaga; e que haveria de ter sempre por ele a mesma ternura um pouco pueril com que vivera aquela paixão aos dezoito anos.

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Memória(s) de infância



Descubro pela comunicação social que Bugs Bunny, o meu desenho animado favorito, que marcou a minha infância a ponto de escolher não comer coelho - lá em casa podíamos escolher não comer apenas um prato de que não gostávamos - e que é provavelmente responsável pela predilecção por coelhos que mantenho até hoje, fez setenta e cinco anos há dois dias. 
Não  posso, por isso, deixar de assinalar a data. Aqui fica, em jeito de homenagem a uma companhia de outros tempos...

terça-feira, 28 de julho de 2015

Canções da minha vida (XVII)


É-me difícil hierarquizar os gostos, mas posso dizer, sem exagero, que Caetano e Chico são nomes maiores da música brasileira, com lugar de destaque na história da minha vida. 
Com eles aprendi a gostar mais de música e de poesia; e a ver o mundo com outros olhos. É muita coisa, pois.
De Caetano poderia escolher quase todas as canções, que em algum momento, por isto ou por aquilo, me foram fundamentais. Hoje, escolho esta...

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Destempero


A professora que era uma cadela

Era uma vez uma professora que era uma cadela. Era um encanto vê-la com o filhote, apetecia fazer fotos, partilhá-las no Facebook e pôr likes. Cadela, a professora arranhou uns garotos e o tribunal decidiu matá-la. O Twitter, claro, reagiu e recolheu milhões de indignações: "Salvem a Teacher!"... Mas, na verdade, a professora não era uma cadela. Enganei-vos para chamar a atenção. Ela é só uma dessas professoras de duas pernas e por isso não teve nenhuma campanha no Twitter. Como ela era do tipo Homo sapiens, o nome deve ter-se-vos varrido. Ela chama-se Inês, 42 anos, e teve um ano tramado, 2012-2013: o marido foi embora, o pai morreu. Isso não serve de desculpa, mas de alguma explicação: ao contrário de todos os seus anos de currículo exemplar, naquele ano ela foi uma professora como não devia ser. Ela bateu nos seus alunos de 6 anos. Defino bater: bofetadas, carolos, coisas assim. E insultou: "Almôndega!" E praguejou: "Fónix." Errado para uma professora, como é (dando exemplo que as redes sociais entendem) errado que uma cadela arranhe. Mas daí a que a Inês apanhe seis anos de prisão efetiva é... é..., escolho a palavra certa: indizível. O bom senso não se explica. Seis anos de prisão. Efetiva. E o Twitter está calado. Há dois anos, o Twitter empolgava-se pela salvação do Zico, o pitbull que matou um bebé. Eu sei que ela é só uma mulher, mas não é possível ver na Inês um são -bernardo que se extraviou e fazer uma pequena campanha?

O artigo é de Ferreira Fernandeshoje, no DN, e aborda  um assunto que me parece de extrema importância, ou talvez ele me toque mais por se referir a uma realidade que conheço demasiado bem.
Que há professores que se excedem, a vários níveis,é um facto. Que tais atitudes devem ser denunciadas, corrigidas e sancionadas, se for caso disso, parece óbvio, de igual modo. E mesmo se quem está por dentro do que se passa hoje nas escolas (e não só nas públicas) tem a noção de como esta profissão vai sendo cada vez mais difícil, e desgastante, um professor não deve, ainda assim, bater nem insultar os alunos em nenhuma circunstância. Mas o inverso também não pode acontecer.
O que eu não entendo, e me espanta, é o alarde que a comunicação social fez à volta desta história e o branqueamento de tantas situações em que o o que se passa é exactamente o contrário, relativas aos vários tipos de violência contra os professores, muito mais recorrentes, e cujas  consequências têm uma gravidade igual ou até maior que esta. Seis anos de prisão efectiva é uma pena descabida e desproporcionada em si, e também face a tantas outros casos em que, com todo o tipo de desculpas e atenuantes, as agressões ficam  total ou parcialmente impunes.

domingo, 26 de julho de 2015

Boas surpresas


Tinha ouvido falar vagamente no filme, de cujo realizador, Victor Levin, não sabia nada. Imaginei-o  uma comédia romântica com todos os ingredientes típicos do género, o que para a tranquilidade de um noite de Verão pode servir. E depois havia Lambert Wilson no elenco, que não deixa de ser um bálsamo para os olhos. Corri o risco. E surpreendi-me. Afinal, até Glenn Close participa.
É um filme agradável, romântico naturalmente, mas que  ainda assim foge ao estereótipo; que aborda, embora ao de leve, outras questões: o pragmatismo da vida quotidiana e as relações de conveniência, o modo como o que vivemos se reflecte sempre de algum modo no que escrevemos, a nostalgia que fica diante do que não se repete, e por aí fora; que conta uma história de amor, simples (tanto quanto o amor pode sê-lo) e o faz de uma maneira convincente, interessante e bem humorada, que nos enternece  e põe bem-dispostos. Não será um filme marcante, mas há nele um certo charme que nos permite passar duas horas de forma absolutamente descontraída. E isso também é bom...

sábado, 25 de julho de 2015

Férias de Verão




O Verão é isto mesmo: uma bebida fresca na brisa do fim da tarde, o mundo todo em tons de  azul, mar e sol imoderadamente, e o tempo que passa mais devagar, sem pressas e sem horas marcadas, na quietude serena da vida que abranda e, preguiçosa, se deixa embalar. 


quinta-feira, 23 de julho de 2015

Destino


Há primeiras recordações que ficam connosco para sempre  e mil e uma coisas que simplesmente são como são, que não se compreendem nem explicam, e se reacendem no irrepetível de cada momento, tal como há amores que mudam mas permanecem resistentes às contrariedades de ser e estar, e às transformações da rotina e do tempo.
E há também olhos sedutores, enfeitiçantes, que  às vezes  ainda nos apanham desprevenidos e nos tomam de assalto, e braços que são o mundo inteiro, e boca, e voz, e corpo inteiro, e luz, e felicidade, convertidos nos mais tentadores e inconfessados pecados, com tudo o que nos fazem querer e sentir, muito para lá dos limites da vida real.

terça-feira, 21 de julho de 2015

Canções da minha vida (XVI)

 
Numa altura em que ouvia muita música brasileira, esta canção causava-me sempre um certo mal-estar, mais concreto ou mais difuso, que se situava algures entre a aflição, a tristeza e a angústia. 
Hoje, lembro-me dela ainda, a espaços, quando em nome dos nossos inúmeros afazares, mil e uma ocupações, correrias várias a que gostamos de chamar "responsabilidades", ou apenas utilizando-as como pretexto, vamos tantas vezes adiando, repetidamente, o encontro com quem nos é próximo.
E depois chega o momento, inevitável, em que somos como estranhos e já pouco ou nada temos a dizer-nos.

domingo, 19 de julho de 2015

O que mais importa



Nunca perseguí la gloria,
ni dejar en la memoria
de los hombres mi canción;
yo amo los mundos sutiles,
ingrávidos y gentiles,
como pompas de jabón.

Me gusta verlos pintarse
de sol y grana, volar
bajo el cielo azul, temblar
súbitamente y quebrarse…

Nunca perseguí la gloria.

Caminante, son tus huellas
el camino y nada más;
caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.

Al andar se hace camino
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.

Caminante no hay camino
sino estelas en la mar…
                                  António Machado


Fujo dos enredos e dos caminhos tortuosos dos que buscam por todos os meios atingir determinados fins. Quando me apercebo da vilania por perto, prefiro calar-me, fingir que não entendo, e manter-me quieta no meu canto, continuando a ser quem sou.
Porque a verdade acaba sempre por revelar-se. E porque a vida vale bem mais de que as pequenas tiranias, maldadezinhas e maledicências que se vão vendo por aí.


sábado, 18 de julho de 2015

Caso sério


Tu me fais tourner la tête
Mon manège à moi, c'est toi
Je suis toujours à la fête
Quand tu me tiens dans tes bras
 
 
 

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Cinismo(s)

 
São abracinhos apertados e louvores excessivos, sorrisos e simpatias a soar a falso, uma imensa solicitude que passa das marcas e deixa espaço para a desconfiança. Há na atitude e comportamento dos cínicos um exagero de palavras e gestos que acaba por traí-los mais cedo ou mais tarde, muitas vezes bem antes de que a máscara caia.
Talvez por ser marcadamente frontal, com tudo o que isso tem também de bom e mau, não tenho grande paciência ou tolerância para pessoas destas, e quando as reconheço prefiro mantê-las à distância.
Não sei se quem é assim o é por temperamento ou de forma ocasional, para tirar proveito de alguém ou de alguma coisa, mas também não importa.
Neste como noutros capítulos, a vida tem-me ensinado muito, mas tenho ainda de vez em quando umas surpresas; boas e más.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Lugares que vale a pena visitar



Em espanhol designa um bar de praia, lugar de bebidas frescas e comidas simples e rápidas. Nada a ver, portanto, com este lugar lisboeta que aqui menciono. O que o Chiringuito tem de especial é a conjugação feliz de diversos factores:
O espaço, em primeiro lugar. São duas salas distintas, ambas arranjadas com cuidado e extremo bom gosto, num lugar que  antes funcionara como padaria. A sala que fica junto da rua tem uma decoração entre o alentejano e o espanhol andaluz, que é muito o leitmotiv do conceito subjacente e faz deste restaurante um espaço profundamente ibérico, misto de casa de petiscos e bar de tapas, como de resto é designado.
A segunda sala, mais espaçosa e conhecida como "a fábrica" ainda em alusão ao anterior espaço da padaria, com móveis antigos e louças do tempo das nossas avós, conjuga na perfeição o antigo e o moderno e faz lembrar a sala de jantar de uma família numerosa.
Depois, há a comida propriamente dita. Das entradas às sobremesas, é tudo de "comer e chorar por mais", numa carta onde se podem encontrar algumas especialidades típicas de ambos os lados da fronteira: há as "puntillitas" e os "tintos de verano", os secretos de porco preto e os peixinhos da horta, as "patatas ali oli" e  as farófias, entre muitas outras delícias, em clara e subtil demonstração de que é muito mais o que nos aproxima do que o que nos distingue.
A acrescentar a tudo isto há ainda os preços muitíssimos acessíveis e a simpatia com que somos recebidos. O Chiringuito é um negócio familiar e isso sente-se no trato e no ambiente que se respira. No fundo, é quase como se jantássemos na sala da casa de uns amigos. Por isso saímos  claramente satisfeitos e com vontade de voltar muitas vezes.
Falta dizer que fica em Campo de Ourique e desde Maio está também no Centro Comercial das Amoreiras. 
Por fim, tenho que fazer uma confissão: é que posso ser considerada relativamente suspeita, uma vez que tenho pela família que está à frente do Chiringuito grande consideração e um afecto profundo, que é já antigo.
Mas estive em duas ocasiões no restaurante de Campo de Ourique e quem me acompanhava, das duas vezes, gostou tanto como eu. Este é pois, por agora, um dos meus lugares favoritos de Lisboa para estar à volta de uma mesa, com amigos, em ambiente agradável e descontraído, o que constitui, quanto a mim, um dos maiores prazeres da vida.
Ora espreitem aqui. E depois vão até lá para comprovar se eu tenho ou não razão...

terça-feira, 14 de julho de 2015

La plus belle ville du monde


  
Esta é para mim a mais bonita cidade do mundo, cheia de luz e em clima de permanente festa,  grandiosa, requintada, romântica e sedutora como nenhuma outra. 
Hoje, a alegria é maior ainda e em sentido literal: em cada esquina, em cada rua de cada bairro há bal musette, música e fogo de artifício. Paris veste-se de azul, de branco e de vermelho como a França inteira para festejar o seu dia nacional, que eu celebro sempre também, mesmo à distância, porque Paris, trago-a sempre comigo; c'est ma ville du coeur.

(Fotografia de Anthony Gelot)

 

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Borboletas no estômago


Há um desconforto peculiar no que se começa e não se sabe como vai ser, misto de medo e vontade, expectativa e ansiedade, risco e entusiasmo, promessa de novidade num caminho que se sabe ter bons e maus percursos, mas onde cabem, ainda assim, todos os sonhos de felicidade.
Escolher faz parte da vida, quase tão naturalmente como respirar; e mesmo sabendo que em grandes e pequenas opções se ganha  e se perde sempre, é bom acreditar, a cada nova etapa, que tudo recomeça outra vez. E que pode ser melhor...

domingo, 12 de julho de 2015

Cinema Francês



Gosto muito de cinema francês e não apenas por causa da língua, que sempre me apaixonou. Há actores e realizadores que são para mim garantia de qualidade e que, por isso, raramente perco. O cinema francês tem em Catherine Deneuve um dos seus nomes maiores, uma daquelas raras actrizes que enche o écran e faz qualquer filme valer a pena.
L'homme qu'on aimait trop ("O homem demasiado amado", em português), de André Téchiné, não é excepção.
Baseada numa história verídica, situada nos anos setenta na Côté d'Azur e ainda não totalmente resolvida na justiça, o argumento é uma adaptação do livro Une femme contre la mafia escrito pela própria protagonista e pelo seu filho, Renée e Jean-Charles Le Roux. É a história de uma vingança, de uma paixão exacerbada, de um desaparecimento mais ou menos misterioso, em que o dinheiro, o poder e a sedução têm um papel fundamental. Mas é também, sobretudo, um retrato sobre a complexidade da relações entre as pessoas.
Para a eficácia do que nos é contado, que faz a ficção parecer real e vice-versa, muito contribui o talento dos actores, com especial destaque para os papéis femininos de Agnès e Renée Le Roux, magistralmente interpretados por Adèle Haenel e Catherine Deneuve, sempre igual a si mesma, isto é: uma diva!

sábado, 11 de julho de 2015

Dias tranquilos


Um livro ou um filme, uma bebida fresca e uma boa companhia, o sol e o silêncio, tudo tão típico dos dias claros e quietos de Verão.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Festivais de Verão



Não sei se é da idade, ou apenas uma questão de comodismo. A verdade é que mesmo gostando muito de concertos, não sou adepta dos festivais de Verão. Já fui ao Rock in Rio e ao Superbock Super Rock,  há uns anos. Mas nunca fui ao Sudoeste, a Paredes de Coura, nem mesmo ao Nos Alive.
Prefiro ouvir música em espaços fechados, mais intimistas, e confortavelmente sentada. Já não tenho paciência para multidões, para ficar em pé, para o pó e o vento, para frequentar casas de banho duvidosas e, menos ainda, para campismos e afins, que nunca fizeram bem o meu género.
E, no entanto, ao saber pela comunicação social que os Trovante vão voltar a reunir-se nas "Festas do Mar", em Cascais, vacilo. 
Longe vai já o tempo em que não perdia um concerto deles num raio de cem quilómetros à volta de Lisboa. Ainda assim, depois do grupo acabar, assisti a quase todos os reencontros. Não é de saudosismo que se trata. É que o Trovante é-me muito especial; é talvez o grupo que mais marcou a minha vida; e que sempre me acompanhou. Vê-lo uma vez mais não é "reviver o passado", nem repetir nada; é antes como encontrar velhos amigos. E sentir que o tempo passou e não passou, mas que o que nos liga permanece, porque, no fundo, crescemos juntos.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Despreocupação


O lado mais aliciante do Verão é a leveza que lhe está associada, como se tudo fosse muito mais leviano e imponderadamente possível...
 
(Fotografia de Rocío Pascual Alfonso)


terça-feira, 7 de julho de 2015

E por falar em referendos...


Agora que o referendo está na ordem do dia, parece-me da maior importância divulgar o que me chegou hoje por mail e deve ser do conhecimento de todos:
 

Projecto de Lei
Pela realização de um referendo sobre o “Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa”
 
1. O “Acordo Ortográfico” de 1990 (AO90) não é, em rigor, um “Acordo”, uma vez que, internamente, não tem consistência ao nível da “unificação” da ortografia; e, externamente, não foi ratificado por todos os Países de Língua oficial portuguesa.
O AO90 é duvidosamente “ortográfico”, por consagrar múltiplas facultatividades irrestritas, que contribuem para multiplicar a diversidade; e, o que é mais grave, para, com isso, destruir o conceito normativo de ortografia. O AO90 assenta em pressupostos metodológicos desactualizados (por exemplo, no que diz respeito à pretensa primazia da oralidade sobre a escrita; ao indeterminado “critério da pronúncia”; às “pronúncias cultas da língua”).
Não foram produzidos quaisquer estudos prévios para justificar as relações de custo-benefício advenientes da adopção do AO90. A “Nota Explicativa” (Anexo II) contém erros técnicos, incorrecções, falácias e inverdades (e erros de Português).
Não houve qualquer discussão pública sobre o AO90 em 1990/1991, nem em 1998. Entre 2005 e 2008, durante o processo de aprovação do 2º Protocolo Modificativo, foram emitidos 27 Pareceres, dos quais 25 foram negativos em relação à ratificação. Tais Pareceres negativos de Especialistas e das entidades consultadas não foram minimamente tidos em conta pelos governantes.
A existência de Reformas legislativas anteriores não é argumento procedente, pois foram feitas antes de 1974/1976, quando Portugal não era uma democracia, e com uma incidência muito menor do que numa sociedade ortocêntrica como a nossa, com um número de pessoas alfabetizadas muito superior. Para além do mais, há vários exemplos de as Reformas ortográficas se contradizerem mutuamente.
Não há nenhum argumento de carácter linguístico, pedagógico ou cultural que justifique a adopção de mais uma reforma ortográfica em Portugal; bem pelo contrário. O AO90 regula apenas certos aspectos da ortografia, não incidindo sobre nenhum dos restantes aspectos da linguagem escrita: o léxico, a sintaxe, a morfossintaxe e a semântica, nas variantes euro-afro-asiático-oceânica e do Português do Brasil. Por isso, alegar que o AO90 contribui para uma “língua comum unificada” – que ninguém escreve (nem fala) – é uma falsidade.
A riqueza de uma Língua está na sua diversidade. O AO90 não corresponde a uma “evolução natural” da língua, mas a uma alteração forçada, em sentido negativo e empobrecedor.
Nos últimos 4 anos, foi criada uma língua artificial “orwelliana”; com centenas de palavras novas, até aí inexistentes em qualquer das ortografias (“conceção”, por “concepção”; “receção”, por “recepção”; “perceção”, por “percepção”). Na ortografia brasileira, existem casos de dupla grafia, em que é mais frequente a variante do uso das consoantes etimológicas: “perspectiva”, “respectivo”, “aspecto”. Deste modo, a eliminação arbitrária das consoantes “c” e “p”, ditas “mudas”, afasta as ortografias do Português europeu e do Brasil. Mais grave do que isso, as “aplicações” do AO90, com as entorses referidas, afastam o Português-padrão das principais Línguas europeias, de matriz ou influência greco-latina. Quereremos nós afastar-nos da civilização global e da identidade de matriz europeia?
O caos ortográfico grassa nos vários dicionários, correctores e conversores; gerando, amiúde, novos erros ortográficos anteriormente inexistentes. Os efeitos do AO90 reflectem-se também na linguagem falada, adulterando a forma como os Portugueses pronunciam as palavras alteradas pelo “Acordo”. A situação actual, de anarquia gráfica, é insustentável e lesa inapelavelmente a Língua Portuguesa, o nosso Património Cultural imaterial, bem como a estabilidade ortográfica, refracção da segurança.
2. Os números 2, 3 e 5 do artigo 115º da Constituição permitem “a submissão a referendo das questões de relevante interesse nacional que devam ser objecto de convenção internacional, nos termos da alínea i) do artigo 161º da Constituição”; o que é o caso do Tratado solene do AO90 e dos seus dois Protocolos Modificativos.
3. O Referendo proposto incidirá sobre a seguinte pergunta: “Concorda que o Estado Português continue vinculado a aplicar o «Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa» de 1990, bem como o 1º e o 2º Protocolos Modificativos ao mesmo Tratado, na ordem jurídica interna?”

Estão disponíveis mais informações:  na página oficial https://referendoao90.wordpress.com, na Página do Facebook “Referendo ao ‘Acordo Ortográfico’ de 1990” e no Grupo do Facebook “Cidadãos contra o ‘Acordo Ortográfico’ de 1990”.

Para os efeitos do artigo 19º, n.º 1, da Lei do Referendo, os Mandatários da Iniciativa de Referendo são os seguintes:
Afonso Reis Cabral CC13810773
Ana Isabel de Lemos Carvalhão Buescu de Vasconcelos e Sousa 4891006 
António Bernardo Aranha da Gama Lobo Xavier BI7815614
António Duarte Arnaut BI457392
António Fernando Amaral Penas Nabais dos Santos CC6575279
António José de Castro Bagão Félix CC524946
António Manuel Chagas Baptista Dias BI7370876
António Maria Maciel de Castro Feijó CC2707341
António Moreira Barbosa de Melo BI0882084
António Pedro de Silva Chora Barrôso BI1254544
António Pedro Saraiva de Barros e Vasconcelos CC00651020 
António Pestana Garcia Pereira CC2033654
António Victorino Goulette de Medeiros e Almeida CC01156254
Artur Manuel Pinto Pizarro de Subtil Brito CC08200094
Bernardo Sousa Ferro Enes Dias CC12560438
Casimiro Cavaco Correia de Brito CC11008450
Constança Beirão da Cunha e Sá BI05031712
David José de Caldas Baptista da Silva CC13215570
Eduardo Cintra Coimbra Torres BI4879895
Eduardo Lourenço de Faria BI09965920
Fernando Alberto Rosa Serrão Ferreira BI4578408
Fernando Paulo do Carmo Baptista CC01612087
Francisco Miguel Gonçalves Valada da Silva CC9819732
Gastão Santana Franco da Cruz BI1347791
Helena Etelvina de Lemos Carvalhão Buescu BI4703879
Helena Maria de Jesus Águas CC4786202    
Henrique José Sampaio Soares de Sousa Leitão CC6527928
Ivo Miguel Barroso Pêgo CC11230348
João Bosco Soares Mota Amaral BI398959
José Álvaro Machado Pacheco Pereira CC00984135
José Estêvão Cangarato Sasportes BI172727
José Pedro da Silva Santos Serra BI4709320
Júlio Guilherme Ferreira Machado Vaz CC07560266
Manuel Alegre de Melo Duarte BI464273
Manuel da Costa Andrade BI2979877
Marcello Duarte Mathias BI00234438
Maria Cristina de Castro-Maia de Sousa Pimentel BI2330407
Maria Filomena Guerreiro Vieira Molder CC01110204
Maria Helena do Rego da Costa Salema Roseta CC135553
Maria Isabel Marques Silva CC 002172542
Maria Lídia Amado Franco de Azevedo e Silva BI325493
Maria Manuela Dias Ferreira Leite BI1202428
Maria Matilde Pessoa de Magalhães Figueiredo de Sousa Franco CC00206835
Maria Olga Douwens Prats BI326170
Maria Teresa de Salter Cid Gonçalves Rocha Pires CC1080931
Miguel Andresen de Sousa Tavares CC1783640
Miguel Bénard da Costa Tamen CC5329915
Pedro de Magalhães Mexia Bigotte Chorão CC09832811
Pedro Machado Abrunhosa CC3848980
Teolinda Maria Sanches de Castilho Gersão Gomes Morenos BI1475993
Teresa Maria Loureiro Rodrigues Cadete CC129774
Vítor Manuel Pires de Aguiar e Silva BI1448597

domingo, 5 de julho de 2015

Canções da minha vida (XV)


Há canções que nem preciso de ouvir muitas vezes. E, no entanto, de cada vez que as oiço sinto que me tocam, sem que consiga explicar com rigor o que o motiva. E páro, para lhes prestar atenção...Talvez a magia da música esteja precisamente na facilidade de chegar ao mais fundo, delicado e indizível de nós; e de nos emocionar.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Sonho de uma noite de Verão


Sables mouvants

(...)
Démons et merveilles
Vents et marées
Au loin déjà la mer s'est retirée
Mais dans tes yeux entrouverts
Deux petites vagues sont restées
Démons et merveilles
Vents et marées
Deux petites vagues pour me noyer.


                                                              Jacques Prévert


(Fotografia de Rocío Pascual Alfonso)

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Calor(es)


Dizem que vem aí muito calor. E, no entanto, começa agora a época em que evito a praia. Em Julho e Agosto frequento-a muito menos, quase nada, porque nela tudo me parece excessivo: a temperatura e as gentes, as criancinhas aos guinchos e as colónias de férias, o barulho, o espalhafato, a confusão. Só em Setembro a praia volta à calma de que eu gosto.
Prefiro pois aproveitar a canícula para passear na cidade, na minha ou noutra qualquer, ou para ficar mais tempo em casa, onde me sinto sempre tão bem...