quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Infâncias de outro tempo


Todos os que, como eu, nasceram um pouco antes da era tecnológica e se recordam ainda de como era a vida sem computadores, telemóveis e redes sociais, lembrarão também o fascínio que o View Master tinha sobre nós. 
Olhamos agora para aquela maquineta com o mesmo sorriso condescendente e quase envergonhado com que olhamos para velhas fotografias em que aparecemos com roupas que nos parecem hoje estranhamente antiquadas e achamo-la demasiado rudimentar, ao mesmo tempo que nos devolve a nossa infância inteira e uma certa nostalgia dos anos já longínquos em que aquela espécie de binóculo de plástico nos contava histórias luminosas e coloridas, ou nos mostrava lugares distantes, uma imagem nova a cada clic na manivela lateral, e deixava que nossa imaginação fizesse o resto.
Numa época em que mesmo o acesso à televisão tinha limites muito rígidos de dias e horas, pelo menos na nossa casa, o View Master poderá ser um dos grandes responsáveis pela enorme paixão que tenho pelo cinema desde sempre, ainda antes das matinées no Monumental, quase  ao lado de casa, onde havia sempre antes do filme uns documentários dobrados em brasileiro, cujas frases, de tão repetidas, continuam a ecoar nos meus ouvidos: "...e quando chega Inverno, as lontras levam suas crias..."
No fundo, as histórias que comecei a ver no cinema eram mais ou menos as mesmas do View Master, mas em formato gigantesco, e já sem ser necessária a ajuda do dedo para fazer rodar as imagens.

6 comentários:

  1. As saudades que a simples referência ao View Master despertou de imediato em mim!
    Lembro-me como ficava maravilhado a seguir a introduzir aquele disquinho naquela espécie de binóculo que nos permitia ver as imagens bidimensionais!!
    Era como um sonho bom.

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    1. Ficávamos todos maravilhados. Havia uma magia qualquer em tudo aquilo... :)

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  2. Eu tive umas coisas dessas mas não me marcaram. Preferia fazer desenhos pequenos em resmas de papel para depois folhear rápido de forma a causar a sensação de movimento, tipo desenhos animados. Cada desenho tinha uma pequena diferença do anterior. Usava aqueles livros das páginas amarelas para desenhar num dos cantos. A paciência que tinha de ter... Também era o que havia para ocupar o tempo.

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    1. Havia (e há ainda, basta querer) mil e uma maneiras de "ocupar o tempo". Sou do tempo do View Master, do Sabichão, do Mikado e do Monopólio. Mas também lia muito e, com a minha irmã, inventávamos mil histórias que podiam ir de "estrangeiras na Baixa" ao Festival da Canção. Afinal a brincadeira serve justamente para das asas à imaginação. Com a tecnologia tornou-se bastante mais sedentária e alienante. Mas é só a minha opinião.

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  3. Tive um igual a esse. Lembro-me que nele observava, entre outras, imagens do castelo de Versailles... Que pena já não ter comigo esse objeto.

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    1. Também já não sei onde anda o meu, Luísa. Mas é bom recordar estas coisas que alimentavam o nosso imaginário infantil. :)

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