quinta-feira, 26 de maio de 2016

"Está vento, assim custa..."


Todas as raparigas da minha geração têm a Anita como uma referência da sua infância. Pelo "Observador", soube que estes livros, que tanto contribuíram para desenvolver o nosso gosto pela leitura, comemoraram há dois dias 50 anos de publicação em Portugal.
Em minha casa não chegámos a ter a colecção inteira, mas havia aqueles que não podiam faltar: A "Anita dona de casa", desde logo, que era o primeiro volume, mas também a "Anita Mamã", a "Anita no ballet" ou a "Anita vai às compras".
Lembro-me de ir à Feira do Livro todos os anos, quando ela era ainda na Avenida da Liberdade, e de me deter longamente em bicos de pés junto da barraca amarela da Verbo Editora, a escolher, com critério e minúcia, um novo título (só podíamos comprar um). Lembro-me, também, de frases inteiras de alguns livros, que repetia com a minha irmã nas mais diversas circunstâncias, e que ainda hoje são uma espécie de "private joke" entre nós.
Muitos vieram depois considerar que o conteúdo destas histórias era demasiado conservador e veiculava uma visão da vida um pouco machista, o que na verdade me parece um exagero. Para nós, as histórias da Anita eram a mistura perfeita de ilusão e realidade quotidiana. Isso explica, talvez, o seu sucesso, que se prolongou por várias décadas. Estes são os primeiros livros que me lembro de ter lido. E relido muitas vezes, durante anos, até quase os saber de cor. 
Só quando já depois dos vinte anos deixámos a grande casa familiar da Conde Valbom é que eles desapareceram fisicamente da(s) nossa(s) casa(s). Acho que não guardei nenhum, a não ser na memória, onde ainda se conservam todos, intactos na sua pureza e simplicidade pueril, de onde às vezes regressam por uma palavra, uma frase, um desenho, e de onde espero que não desapareçam nunca por uma daquelas fatalidades que atiram tudo o que vivemos para o vazio do esquecimento.
Recentemente mudaram-lhe o nome e, sob nova editora, rebaptizaram-na, chamando-lhe Martine para a aproximar do original belga.
Mas para mim e para todas as que, como eu, cresceram com ela, será sempre a Anita, companheira de brincadeiras, descobertas e aventuras.

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