terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Ombro, mão, colo

Em momentos bons e maus é em quem pensamos primeiro. E entendemo-nos sem precisar de muitas palavras. Tudo só olhos, presença e sentimento. Há alguma coisa melhor?  

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

La La Land


Percebo o êxito deste filme, que consegue ser simultaneamente romântico, delicado, onírico, melancólico; e com isso conter em si a magia de que o cinema é feito e, por momentos, hipnotizar-nos.
Pertencendo a um género que não faz exactamente as minhas delícias, ele evoca em nós todos os musicais a que assistimos, de West Side Story na arrebatadora sequência de abertura, aos clássicos de Gene Kelly e Fred Astaire, ou Moulin Rouge, de que me lembrei enquanto assistia a La La Land.
A história é em si mesma banal: Mia, (Emma Stone), uma jovem aspirante a actriz que trabalha no café dos estúdios Warner entre audições sem sucesso, encontra Sebastian (Ryan Gosling), jovem músico apaixonado por jazz, que toca piano em bares de categoria mais ou menos duvidosa enquanto sonha com o seu próprio clube. O destino une-os no amor e no sonho, mas cumprido o sonho pode o amor resistir?
Não é por acaso que se passa em Los Angeles, lugar por excelência onde a banalidade rapidamente se transforma em espectáculo e a que o título faz desde logo referência, jogando também com a expressão to be in  lala land que significa "estar fora da realidade". E é talvez na permanente mistura entre realidade e imaginação que o filme tem mesmo o seu maior encanto.

domingo, 29 de janeiro de 2017

Emanuelle Riva



Soube hoje que Emanuelle Riva morreu na sexta-feira. Tinha 89 anos e foi uma das grandes actrizes do cinema francês. Conhecida sobretudo pelo seu desempenho em Iroshima mon amour de Alain Resnais (de 1959) e Amour de Michael Haneke (2012) foi, num e noutro, inesquecível.
Com uma carreira de cerca de 60 anos, trabalhou com grandes nomes do cinema, mas também do teatro e televisão e foi muito premiada pelo seu reconhecidíssimo talento. Para mim, será sempre um dos nomes maiores do cinema. E esses nunca morrem...

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

O que me faz falta


Cola-se-me às vezes uma nostalgia ao corpo...

Estoy bailando contigo
Y no me atrevo a mirarte
Y no me atrevo a mirarte
Estoy bailando contigo
Y no me atrevo a mirarte
Porque si miro tu cara
Me dan ganas de abrazarte

Me dan ganas de abrazarte
Y estos sentimientos mios
Yo los tengo muy guardaos
Quiero que la gente piense
Que no estoy enamorao


sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

O meu Liceu


O Pedro Nunes fez hoje 111 anos. É uma data bonita, um número que, segundo se diz, está associado a optimismo, a novos começos e a motivação. 
Como costuma acontecer nesta data, o dia foi de festa. Começou e terminou com música; e, durante toda a manhã, multiplicaram-se as mais diversas actividades, organizadas conjuntamente por alunos e professores - filmes, exposições, torneios, sessões de poesia, conferências, laboratórios abertos, rastreios de saúde, jogos, workshops, - por onde toda a gente circulava em total liberdade, vivendo a escola de uma maneira diferente, naquilo que ela deve ser acima de tudo: um lugar de abertura ao mundo, de cultura e de saber, mas também de reflexão, de encontro(s) e de partilha.
Tal como aconteceu no ano passado, mas desta vez com um pouco mais de fundamento, sinto prazer e orgulho de pertencer a este lugar, onde apesar de nem tudo ser perfeito - nunca é, em lado nenhum, - aprender  e ensinar continua a ser bom e a ter sentido.
Durante muito tempo (22 anos), foi outra a escola que senti como minha, onde estava quase como em casa, onde aprendi a dizer "a minha escola" com esse sentimento de pertença relativamente a um lugar e a um projecto  que, de certo modo, também ajudei a construir. Onde vivi muitos momentos bons e maus, conheci pessoas extraordinárias e outras detestáveis, onde me construí pessoal e profissionalmente, onde gostei muito de ser professora e devagar fui traçando esse caminho, com esforço e empenho, suor e sangue, às vezes, também, na tentativa de ir fazendo mais e melhor em cada dia.
Não foi sempre fácil, mas eu não gosto do que é fácil. Foi, acima de tudo, apaixonante. E, como adoro desafios, entreguei-me de alma e coração, dando o melhor de mim a um projecto em que acreditava profundamente,  e que me parecia tão certo como definitivo. Por isso, não estava nos meus planos sair dali.
Mas a vida nem sempre é como imaginamos e, muitas vezes, quase sempre, vira-se do avesso e troca-nos as voltas. Porque, subitamente, tudo mudou. A "minha escola" deixou de o ser, tornou-se um lugar desagradável e hostil, sem rumo nem projecto, um lugar  mais ou menos à deriva, onde ninguém pode ser feliz. Achei então que era a altura de partir,  encerrar um ciclo e começar uma nova etapa, noutro lugar, que pudesse de novo sentir "meu".
Assim se cumpriu um sonho antigo: o privilégio de pertencer a um liceu com história, moderno e antigo simultaneamente; e a possibilidade de começar tudo outra vez, com a experiência como valor acrescentado. Sem qualquer nostalgia do que ficou para trás. Tal como nos amores, foi bom enquanto durou a "chama acesa", deixou marcas em mim, mas já não há saudade nem mágoa, porque agora é outro tempo e são outros desafios, diferentes, mais ou menos difíceis, e não menos aliciantes.
E à medida que o tempo vai correndo, vou sentindo cada vez mais que este é agora o meu lugar, o meu liceu. E gosto de aqui estar.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

A paixão das cidades







Se é verdade que o mar me fascina, e que preciso muitas vezes de me sentar diante dele e de o olhar longamente, ou de fechar os olhos e apenas ouvi-lo na sua cadência sincopada para me sentir em paz com a vida e me parecer que o mundo é um lugar maravilhoso, não tenho, contrariamente à maior parte das pessoas, a ânsia da natureza.
Não sou do campo, e as paisagens demasiado verdes são para mim sobretudo lugares de passagem, onde não gosto de me demorar porque facilmente me aborrece tanta "pasmaceira". Também a montanha não me seduz. Nunca fui "à neve" fazer ski nem faço questão e, apesar de gostar muito de andar a pé, o que faço com regularidade, com prazer e sem esforço, as caminhadas por montes e vales não são para mim sinónimo de paraíso.
É na cidade que eu sou feliz. Gosto de cidades com alma e identidade própria, do que em cada uma é especial e faz o seu encanto, tornando-a diferente de todas as outras. Delicio-me a vê-las, observando-as nos mais inacreditáveis detalhes, os cheiros e as cores, o movimento e as pessoas, o desenho das casas e a animação das ruas, a luz, o tempo, as vozes, deixando-me levar por coisas pequenas, uma janela florida, um recanto, uma fonte, um café agradável, ou uma montra, ou um telhado. É na confusão de uma cidade espanhola ao fim do dia que gosto de me perder e me sinto bem na minha pele, muito mais do que no meio de um prado verde com vacas a pastar, ou entre árvores e chilreios de pássaros. E gosto particularmente de cidades com água, talvez porque me habituei a ter o Tejo e o mar quase à porta.
Quando visito um nova cidade também não vou a correr ver tudo quanto é museu e igreja, que a cultura quer-se em doses q.b. e não é apenas isso que faz a singularidade de um lugar. 
Se tivesse muito dinheiro, o que eu gostava mesmo era de poder viver uma temporada em algumas das minhas cidades preferidas. Mas, como isso não é possível, contento-me em voltar a elas de vez em quando. E ainda tenho muitas por descobrir...

domingo, 15 de janeiro de 2017

Humanidade


Há filmes assim, que uma pessoa vai ver sem saber bem porquê, realizados por alguém de quem não se sabe quase nada e protagonizados por actores sem nomes sonantes ou demasiado mediatizados. E que depois, talvez por não termos em relação a eles expectativas nenhumas, acabam por ser boas surpresas. É o caso do último filme que vi, Little men ("Homenzinhos", na versão portuguesa), de Ira Sachs.
É um filme passado em Nova Iorque, a história de dois adolescentes, Jake e Tony, da sua amizade,  e das suas famílias, que trata também das relações entre pais e filhos, de educação, de afectos e de fragilidades. O que há nele de mais surpreendente é talvez a humanidade das personagens, que são gente comum e, como todos nós, se enganam, erram, hesitam e tentam adaptar-se a novas circunstâncias, boas ou más.
É um filme que, na sua subtil delicadeza, nos toca e incomoda, e nos põe a pensar também nos nossos dilemas e escolhas. Que sendo centrado em dois adolescentes é da grandeza e da pequenez de todos nós que nos fala, de uma maneira não ostensiva, mas fazendo parte da fluidez narrativa, para o que muito contribui a excelente interpretação de todos os actores.
E continua a ser isto que mais me fascina no cinema: a capacidade de me contar uma história e de me deixar a pensar sobre ela, sobre mim, sobre a vida.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Dias frios de sol


Na habitual  crónica do Domingo na "Notícias Magazine", Catarina Carvalho dizia ontem que a primeira semana de Janeiro é a melhor de todo o ano, porque passado o stress das festas, a vida retoma a sua normalidade e ainda temos um ano quase inteiro para estrear (...)  e todas as esperanças ainda não embateram nas realidades duras que hão-de seguir-se e destruí-las. As nossas decisões de ano novo, promessas de mudança de vida, grandes ou pequenas, essas também ainda não foram quebradas (...) e por isso nos sentimos mais fortes, capazes de tudo.
Não será a minha semana favorita do ano, como para Catarina Carvalho, mas há de facto um esplendor qualquer nestes primeiros dias de Janeiro, que os torna mais agradáveis e promissores e, apesar do frio, docemente aconchegantes.

(Fotografia de Maria Cristina Guerra)

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Dificuldade(s)


A questão que mais me tem "atormentado" neste início de ano é o retomar do velho hábito de levantar muito cedo e sair de casa ainda antes das oito. Tenho uma enorme dificuldade em deitar-me cedo e, contrariamente a Marcelo Rebelo de Sousa, preciso muito de dormir - oito horas, em média, é o que necessito para estar óptima. Têm-me valido, para já, os três despertadores que ponho a tocar todas as manhãs e, hoje, pude enfim vingar-me: fiz uma sesta de duas horas...

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Ano Novo, Vida Nova

Este ano, pela primeira vez, o começo do ano é realmente coincidente com o Ano Novo. E este facto, insólito em si mesmo, não deixa de ser significativo. É como se este grande parênteses tivesse ficado mesmo para trás, agarrado ao ano velho, e tudo começasse de facto a partir de agora.
O Ano Novo vem por isso carregado de boas expectativas, de projectos, de resoluções e de desejos. E em tudo, como sempre, com "ganas" e sentimento, que é o coração quem sempre leva a dianteira e dá ânimo para levar a vida para a frente.