quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

A paixão das cidades







Se é verdade que o mar me fascina, e que preciso muitas vezes de me sentar diante dele e de o olhar longamente, ou de fechar os olhos e apenas ouvi-lo na sua cadência sincopada para me sentir em paz com a vida e me parecer que o mundo é um lugar maravilhoso, não tenho, contrariamente à maior parte das pessoas, a ânsia da natureza.
Não sou do campo, e as paisagens demasiado verdes são para mim sobretudo lugares de passagem, onde não gosto de me demorar porque facilmente me aborrece tanta "pasmaceira". Também a montanha não me seduz. Nunca fui "à neve" fazer ski nem faço questão e, apesar de gostar muito de andar a pé, o que faço com regularidade, com prazer e sem esforço, as caminhadas por montes e vales não são para mim sinónimo de paraíso.
É na cidade que eu sou feliz. Gosto de cidades com alma e identidade própria, do que em cada uma é especial e faz o seu encanto, tornando-a diferente de todas as outras. Delicio-me a vê-las, observando-as nos mais inacreditáveis detalhes, os cheiros e as cores, o movimento e as pessoas, o desenho das casas e a animação das ruas, a luz, o tempo, as vozes, deixando-me levar por coisas pequenas, uma janela florida, um recanto, uma fonte, um café agradável, ou uma montra, ou um telhado. É na confusão de uma cidade espanhola ao fim do dia que gosto de me perder e me sinto bem na minha pele, muito mais do que no meio de um prado verde com vacas a pastar, ou entre árvores e chilreios de pássaros. E gosto particularmente de cidades com água, talvez porque me habituei a ter o Tejo e o mar quase à porta.
Quando visito um nova cidade também não vou a correr ver tudo quanto é museu e igreja, que a cultura quer-se em doses q.b. e não é apenas isso que faz a singularidade de um lugar. 
Se tivesse muito dinheiro, o que eu gostava mesmo era de poder viver uma temporada em algumas das minhas cidades preferidas. Mas, como isso não é possível, contento-me em voltar a elas de vez em quando. E ainda tenho muitas por descobrir...

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