domingo, 23 de julho de 2017

A evitar


Entre as minhas preferências cinematográficas, já se sabe, o cinema francês ocupa um lugar de destaque. Mas isso não quer naturalmente dizer que goste de tudo, porque não é a origem do filme que é garantia de qualidade. Nem os realizadores, ou os actores, sequer. A prova disso é o último filme que vi, Sage femme no original, que na verdade quer dizer "parteira", mas em português ganhou um título totalmente distinto: "Duas mulheres um encontro".
De um realizador que desconheço, Martin Provost, o filme conta com duas interpretações de peso, Catherine Frot e sobretudo Catherine Deneuve, uma verdadeira diva, não apenas do cinema mas também da cultura francesa. A sua presença, pensava eu, chegaria para tornar interessante qualquer filme. Enganei-me. Catherine Deneuve tem sempre qualquer coisa que nos toca, ma este é um filme  pesado, longo e, acima de tudo, muito maçador. Vivamente desaconselhável, digo eu...

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Diferenças


Em Paris não se chega a esperar cinco minutos por um transporte público. As pessoas não andam todas agarradas aos telemóveis, alheias ao que se passa à sua volta. No metro, por exemplo, há muita gente a ler, ou simplesmente a olhar, sem fazer nada. Não há cães à solta, nem gente a passear cães por todo o lado, nem cócó de cão nos passeios e nos jardins. Há quem ande de bicicleta, claro, mas não há a paranóia das ciclovias.
Serão estas e tantas outras diferenças que distinguem o mundo civilizado do nosso. E será não apenas por causa de tudo isto, mas também por coisas destas que eu gosto tanto desta cidade.

domingo, 9 de julho de 2017

Paris sera toujours Paris



Le soleil qui se lève 
Et caresse les toits
Et c'est Paris le jour
La Seine qui se promène 
Et me guide du doigt
Et c'est Paris toujours
Et mon coeur qui s'arrête
Sur ton coeur qui sourit
Et c'est Paris bonjour
Et ta main dans ma main 
Qui me dit déjà oui
Et c'est Paris l'amour
(...)
Loin des yeux loin du coeur
Chassée du paradis
Et c'est Paris chagrin
(...)
Et toi qui m'attends là
Et tout qui recommence
Et c'est Paris je reviens

                            (Jacques Brel)


De tempos a tempos é isto: uma saudade enorme e a vontade permanente de voltar. Depois, deixar-me encantar de novo, como se fosse a primeira vez, com a luz do entardecer no Luxembourg, com a vista de Montmartre, os passeios no Quartier Latin, ou a doce tranquilidade da Place des Vosges; e com os telhados e o rio, os cafés e as praças, com o ritmo próprio da cidade, que mistura, com requinte e sabedoria, arte e cultura, boémia e sossego, raffinement e charme. E com a língua, essa língua que é para mim a mais bonita do mundo...

segunda-feira, 3 de julho de 2017

Um músico fora do comum


Quem me conhece sabe como eu gosto de bons concertos e como, ao longo dos anos, me têm empolgado, ao vivo, tantos músicos de que gosto há muito, ou outros que o tempo e a vida me vão revelando.
Salvador Sobral é a  minha mais recente "paixão" e, desde que o descobri, vivo em estado de puro encantamento. Porque ele é muito mais que um músico excepcional, dono de uma linda e límpida voz, ou um intérprete de excelência. É alguém que tem qualquer coisa extraordinária, que acrescenta alguma coisa e que toca as pessoas (daí o sucesso que o levou à vitória na Eurovisão). É alguém que sente tão profundamente a música, que se entrega tanto, que a sua emoção nos atravessa a pele e o corpo e se aloja no mais profundo de nós.
Ouvi-lo é ouvir sempre uma versão diferente de cada canção, viajar com ele pelas melodias e pelo que ele lhes faz, e perceber que a arte tem essa capacidade maravilhosa de nos chegar à alma.
Ver e ouvir Salvador Sobral é, a cada vez, novo e diferente, mas ao vivo é melhor ainda. É sentir o privilégio de fazer parte daquele momento; é arrepiar-se, chorar, rir, calar-se e, em silêncio, escutar; é perceber que um espectáculo não é apenas reproduzir um disco, é soltar os sentimentos e deixar que as canções fluam, e sejam atravessadas por outras; é risco e improviso; é um extraordinário trabalho de conjunto (Júlio Resende, André Rosinha e Bruno Pedroso contribuíram também em grande medida para a magia do que se viveu esta noite no CCB).
E como se tudo isto não bastasse, há ainda a simplicidade de Salvador, o seu sentido de humor, a sua capacidade de se rir de si mesmo, que é prova de inteligência, a proximidade que estabelece com quem o vai ouvir, que torna tudo mais autêntico e nos chega melhor ao coração.
Por isso, mesmo eu que já vi excelentes músicos e assisti a concertos inesquecíveis, que já estava à espera de um bom concerto e ainda assim me surpreendi, apetece-me agradecer a quem nos dá a possibilidade de viver um arrebatamento destes, que é das melhores coisas que há na vida. E se a felicidade é, como creio, feita de momentos de plenitude, o que se passou hoje naquela sala fez-me, sem dúvida, ser (mais) feliz. E isso é tão bom!...
Obrigada, Salvador.